Os fenômenos naturais, percebidos pelo homem quando emergem a superfície e elevam-se como aparência, ou ainda, quando o corpo é impactado diretamente por terremotos, deslizamentos de terras, ondas sonoras, margeiam a preocupação estética e as formas de apreensão na relação olhar/objeto na recente pesquisa do artista plástico brasiliense Pedro Hurpia. As obras, que se realizam em plataformas como fotografias, vídeos, desenhos, esculturas e instalações, compõem a primeira exibição individual do artista – no Jardim Paulista – na unidade de São Paulo da Galeria Marcelo Guarnieri.
A produção e o olhar de Pedro Hurpia remetem-nos aos artistas-pintores-viajantes, que durante as suas travessias em diferentes regiões e contextos, recolhem o material bruto usado em seus projetos. Para a mostra na Marcelo Guarnieri, por exemplo, o artista trabalha com desenhos de paisagens reais, registradas pela fotografia e paisagens construídas pelo real ou imaginário, realizados a partir dos padrões geológicos que constam nessas fotografias.
Com imagens fotográficas realizadas pelo próprio artista – salvo exceção das estereoscópicas dos vídeos e instalação – tratadas como referência inicial, parte-se para a composição, a recombinação e novos direcionamentos no desenho. O registro fotográfico procura captar aquilo que na formação geológica não se mostra de imediato, e que está oculto do campo de visão; neste sentido, o desenho é a revelação que faz justiça conferindo formas aos “ocultos” da própria natureza.
As noções de deslocamento e colapso, não aparecem somente na relação entre a fotografia e o fotografado – a natureza – mas ao próprio meio fotográfico. “A pesquisa surgiu quando adquiri um aparelho estereoscópico. As fotografias, utilizadas neste aparelho, são duplicadas e colocadas justapostas com uma leve diferença de deslocamento horizontal entre uma e outra. Com o aparelho colocado na posição correta do usuário, permite que se tenha uma ilusão tridimensional da imagem em questão”, conta o artista, que ficou interessado nas duas imagens idênticas e na possibilidade em se pensar uma “terceira imagem”, a partir deste método. Desde então, Hurpia passou a se interessar por essa investigação em seu processo criativo, com objetos e instalações que trouxessem esses duplos de uma maneira sutil, sem um aparato que causasse ilusões ópticas.
“obverso // reverso”, título da exposição, trata desse duplo da paisagem, que pode ser transfigurado na imagem impressa ou em “objetos-estruturas”. Em ambos os casos, a preocupação com o olhar, a dimensionalidade e a apreensão fenomênica do objeto: o frente e verso, direita e esquerda, obverso e reverso. Cada imagem e cada objeto se particularizam, também, por apresentarem um outro lado, que, para o artista, conjugam a possibilidade de abertura de realidades infinitas, além da superfície bidimensional e plana da imagem. No caso da formação geológica, lastro na natureza em que a inquietação do artista iniciou a sua “jornada”, segundo as palavras do próprio viajante Pedro Hurpia: “há um caminho e camadas para se chegar atrás de onde se encontrava anteriormente; longe do campo de visão, mas que pode ser projetada pela imaginação de experiências passadas”.
De 29 de outubro a 26 de novembro, na unidade São Paulo da Galeria Marcelo Guarnieri.