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AGENDA CULTURAL

Inéditos de Felipe Rezende

Em sua primeira exposição individual na Galeria Leme, Butantã, São Paulo, SP, Felipe Rezende apresenta sua produção mais recente, composta de pinturas à óleo sobre lona de caminhão e desenhos em nanquim e grafite, todos inéditos. Com curadoria de Tiago Sant’Ana, “O último buritizeiro” permanece em cartaz de 02 de fevereiro até 10 de março.

Neste conjunto de trabalhos, Felipe Rezende combina observações de seu cotidiano com elementos da cultura pop, como personagens de animes e quadrinhos, em prol da constituição de uma narrativa visual. Nas obras presentes na mostra, o artista amplia seus assuntos de interesse e passa a incorporar os debates sobre as questões ambientais e os fluxos migratórios para São Paulo.

Na obra que dá título à exposição,  o artista retrata no centro da composição Dona Ozelina e um buriti ao fundo. Ao redor dessa figura é possível notar uma colheitadeira, um balde e uma bacia cheios de frutos da planta, demonstrando duas formas distintas de colheita e plantio e um aviação agrícola expelindo agrotóxico. No topo esquerdo da composição um Koffing – personagem venenoso do anime Pokémon – veste um chapéu de cowboy.

Ozelina é moradora do quilombo Cacimbinha, no oeste baiano. A região vive um intenso conflito entre dois projetos antagônicos, de um lado os camponeses, geraizeiros e comunidades tradicionais, que vivem dos recursos hídricos abundantes da região, do cultivo do buriti e do conhecimento da biodiversidade do Cerrado e de outro o modelo do agronegócio, que hoje ocupa 150 mil hectares com plantio de soja, milho e algodão, de acordo com relatório da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM).

“Felipe desenvolveu uma maneira de criar a partir daquilo que ele observa e se relaciona no cotidiano, mas ele não para por aí, porque ele funde elementos dessa realidade tangível com outras figuras, que muitas vezes vem do universo do sonho, dos quadrinhos, da cultura pop. Ele utiliza esses elementos para fazer uma espécie de bricolagem, que vai justapondo diferentes elementos nessa atmosfera, que ele cria em prol da constituição de uma narrativa”, comenta o curador Tiago Sant’Ana.

A escolha da lona de caminhão como suporte para suas pinturas extrapola uma decisão exclusivamente matérica, contribuindo como uma metáfora do trânsito de pessoas, de elementos, de imagens de um lugar para o outro.

“Essas lonas viajam, deslizam nas estradas e carregam consigo uma sorte de desgastes do tempo, de marcas que ficam inscritas em suas fibras. Elas são uma estratégia, que o Felipe utiliza para tratar desses fluxos de migração, de finitude, de passagem do tempo”, acrescenta Tiago Sant’Ana.

 

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