Denomina-se “Easy, Fractals & Star Map”, a nova exposição do artista português Julião
Sarmento, em sua primeira no Galpão Fortes Vilaça, Barra Funda, São Paulo, SP. A mostra é
composta por pinturas e esculturas recentes e estabelece uma relação ficcional entre Edgar
Degas e Marcel Duchamp – “gigantes da história da arte”, nas palavras do artista. Ao criar um
diálogo entre os dois mestres, Julião reafirma temas frequentes de sua própria obra: o hiato
entre ficção e realidade, mecanismos de representação e erotismo.
O arquétipo feminino – elemento central na prática de Julião Sarmento – reaparece em “Fifth
Easy Piece”, tomando como inspiração a icônica obra de Degas, “La Petite Danseuse de
Quatorze Ans” (c. 1881). Na reinterpretação do artista, a dançarina adolescente é
transformada em uma mulher madura, moldada através de um moderno processo de
impressão 3D. Em “Alma”, os moldes de gesso são arranjados em uma armação de ferro,
expondo o avesso da escultura e aludindo dessa vez a Duchamp – algo ainda mais explícito na
obra “O Grande Vidro”, feita especialmente para a mostra.
A referência aos dois mestres espalha-se ainda nas pinturas da exposição, seja por citações
gráficas, seja por alusões obscuras. Nesse conjunto de obras, Sarmento emprega diferentes
pigmentos, solventes e técnicas, criando formas triangulares que se multiplicam como fractais.
A quase completa ausência de cor, outro traço marcante do artista, reafirma o forte diálogo
que sua pintura mantém com o desenho. Os títulos referem-se a nomes de estrelas e, uma vez
espalhadas na parede, parecem formar constelações. Em “Piscis Austrinus”, um díptico de
cinco metros de largura, manchas orgânicas se contrapõe às formas geométricas e criam uma
elegante composição. Os volumes prateados de “Sirrah”, por sua vez, evocam a superfície
lunar.
Ao cruzar diferentes tempos históricos e planos físicos, “Easy, Fractals & Star Map” instaura
uma narrativa fictícia, possível apenas no campo da arte. As associações livres propostas por
Sarmento apontam para o desconhecido, como um convite para mapear os astros.
Sobre o artista
Julião Sarmento nasceu em Lisboa, em 1948, e atualmente vive e trabalha em Estoril, também
em Portugal. Considerado um dos mais renomados artistas portugueses, ele esteve em duas
edições da Documenta de Kassel (1987 e 1982) e em duas Bienais de Veneza (2001 e 1997),
além de muitas outras mostras. Entre suas exposições individuais recentes, destacam-se: Una
forma extrema de privacidad, Museo de Arte Carrillo Gil (Cidade do México, 2013); Noites
Brancas, Museu Serralves (Porto, 2012); Artist Room, Tate Modern (Londres, 2010); Grace
under Pressure, Estação Pinacoteca (São Paulo, 2009). Sua obra está presente em diversas
coleções públicas, entre as quais: Guggenheim (Nova York), Tate Modern (Londres), SFMOMA
(San Francisco), Moderna Museet (Estocolmo), Centre Pompidou (Paris), CaixaForum
(Barcelona).
De 15 de agosto a 26 de setembro.