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AGENDA CULTURAL

Lais Myrrha na Athena

A galeria Athena Contemporânea, Copacabana, Shopping Cassino Atlântico, Rio de Janeiro, RJ, apresenta, a partir do dia 10 de outubro, “Lais Myrrha – Cálculo das diferenças”, exposição individual com cinco obras recentes e inéditas da artista mineira radicada em São Paulo. Na mostra, serão apresentadas instalações, esculturas e uma fotografia, que se relacionam entre si e tratam da questão da arquitetura e da temporalidade. Todas as obras – com exceção de uma, que é de 2016 – foram produzidas este ano, dando uma dimensão da mais recente produção da artista, que foi um dos destaques da última Bienal Internacional de São Paulo e cujo trabalho atualmente integra a exposição “Condemned to be Modern”, no Los Angeles Municipal Art Gallery (LAMAG), nos EUA.

Em todas as obras é clara a presença da arquitetura e da construção, assim como a questão da temporalidade, seja na ação que o tempo irá exercer sobre o trabalho, transformando-o em algo novo com o passar dos dias, seja na ação que aconteceu e foi “paralisada” pela artista, fazendo o público ver o resultado do que ocorreu no passado. A pesquisa recente de Lais Myrrha sobre os materiais usados na construção civil, como tijolos, cimento e madeira, se desdobra em algumas obras da mostra. Esses materiais cotidianos ganham uma nova significação na produção da artista, cujo interesse, em linhas gerais, é desestabilizar as convenções materiais, políticas e ideológicas que delimitam a vida social, pessoal e política. Os trabalhos presentes nesta exposição destacam um processo desconstrutivo vigente. “Os trabalhos contrastam porvir e ruína; a memória do que poderíamos ter sido e não fomos; a consciência do fracasso que se percebe finalmente como delírio”, afirma a crítica de arte Heloisa Espada, no texto que acompanha a exposição.

 

“Nos últimos anos, venho trabalhando a noção de impermanência e da história, assim como a precariedade dos conceitos de equivalência e equilíbrio. Um elemento importante no meu processo de criação é a escolha e o uso preciso dos materiais, da capacidade que eles têm de produzir signos, funcionando como condensadores de narrativas”, afirma LaisMyrrha.

 

 

Trabalhos em exposição

 

Quatro módulos de vidro compõem a instalação “Cálculo das diferenças” (2017), que dá nome à exposição. Dentro de cada um deles há a mesma quantidade de tijolos inteiros e tijolos quebrados e peças de madeira inteiras e queimadas. “O volume muda quando o material é quebrado ou queimado. O volume do tijolo aumenta e o da madeira diminui”, explica a artista, que relaciona esse trabalho com o valor das culturas na atualidade. Tijolos e madeiras não são meros materiais, mas servem para destacar aspectos importantes sobre a relação entre ruína e história, sobre ruína e valor, cultura e valor. A madeira é reduzida a cinzas enquanto os tijolos a cacos e a pó. Sendo assim, as cinzas ocupam uma fina camada, quase imperceptível da caixa de vidro, os cacos de tijolos ultrapassam o limite dado pela caixa de vidro. As cinzas se diluem e desaparecem misturadas à terra, ao passo que os fragmentos de tijolos podem sobreviver por milênios. “O material bruto, em estado de devir, é confrontado com sua inutilização e sua morte. A equação lida com o que é inconstante e contingente, humano, epotencialmente desleal. As ideias de projeto e escombro – apresentadas por meio de materiais em estado transitório – se conformam em espaços idênticos que podem assumir o papel de caixa ou de caixão”, diz Heloisa Espada.

Produzida no ano passado, a obra “Corpo de Prova”” é composta pelas próprias amostras de cimento, uma peça fundida em bronze e uma aquarela. Corpo de prova é a amostra do concreto endurecido, especialmente preparada para testar propriedades como resistência à compressão. A artista se apropria desses materiais descartados pela construção civil e cria um empilhamento com esses objetos, tal como o desenho da aquarela apresenta. Quando algum deles cai no chão, ela o deixa no exato lugar da queda e funde em bronze os demais que resistiram ao empilhamento. “A ação realmente aconteceu, mas você não a vê, o que é mostrado é apenas o projeto e seuresultado”, diz a artista.

 

Quatro placas:uma de granito preto, uma de mármore branco, uma de cimento e outraterra compõe outra obra da exposição. As placas são colocadas lado a lado, com um friso que passa por elas, criando uma linha que atravessa todas as placas. Com o tempo, a linha deixa de ser contínua, pois cada um dos materiais resiste ao tempo de uma forma. “O trabalho vai ser completado pelo tempo, a linha será descontinuada”, conta a artista.

 

Na parede, estará a obra “Soma não nula”, composta por quadrados de ouro medindo um centímetro quadrado e pesando um grama cada, sobre os quais 1 grama de póé distribuído. “Quanto mais passa de um quadrado para outro, mais vai diminuindo a quantidade de pó e aparecendo mais o ouro”, explica a artista. Ela acrescenta, que é a mistura de elementos o pó de vidro e a liga acrescentada ao ouro é o que permite que esses materias possam ganhar forma: “em estado puro, esses elementos são informes”.

 

Completa a exposição a fotografia “Estrutura” (2017), que foi tomada quando filmava o vídeo Delírio, comissionado pelo MASP para exposição Avenida Paulista nesse ano. Mais uma vez, aparece uma coluna numa situação e nesse caso, enquadrada por uma geometria que reforça a fragilidade e instabilidade.

 

Sobre a artista

 

Lais Myrrha nasceu em Belo Horizonte, MG, em 1974. Vive e trabalha em São Paulo. É doutoranda em artes visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais.Recebeu diversos prêmios, entre eles, Prêmio Honra ao Mérito Arte e Patrimônio2013, Paço Imperial/ Minc/IPHAN; Bolsa Estímulo à Produção em Artes Visuais Funarte, 2012; Prêmio Atos Visuais – Funarte – Brasília, e Prêmio Projéteis – Funarte – Rio de Janeiro, ambos em 2007. Dentre suas principais exposições individuais estão: “Reparation of Damages” (2017), na Broadway 1602, em Nova York, EUA; “Corpo de Prova” (2017), no Sesc Bom Retiro, em São Paulo; “Entre-Tempos” (2014), no Sesc Palladium, em Belo Horizonte; “Projects on Ashburn, Other Coordenates” (2014), no College Station, Texas, EUA; “Zona de Instabilidade”, na Caixa Cultural Brasília (2014) e na Caixa Cultural São Paulo (2013); a mostra no Paço das Artes, em São Paulo (2011); as mostras na Funarte do Rio e de Brasilia (2008), entre outras. Dentre suas exposições coletivas mais recentes estão: “Live Uncertainty” (2017), na Fundação Serralves, em Portugal; “Encontros no Espaço” (2017), na Funarte Belo Horizonte; “Travessia 5: Emergência” (2017), no Galpão Bela Maré, Rio de Janeiro; “Metrópole: Experiência Paulistana” (2017), na Estação Pinacoteca, em São Paulo; “Avenida Paulista”, no MASP, em São Paulo; “Re-effecter Matter” (2017), na Galleri Susanne Ottesen, na Dinamarca;  “32º Bienal de São Paulo: Incerteza Viva” (2016); “Brasil, Beleza?!”, no Museum Beelden aan Zee, na Holanda; “Quando o Tempo Aperta” (2016), no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, e no Palácio das Artes, em Belo Horizonte; “Empresa Colonial”, na Caixa Cultural São Paulo; “Emergency Measures – Power Station” (2015), nos EUA; “Quarta-feira de cinzas” (2015), no Parque Lage, Rio de Janeiro; Exposição dos artistas finalistas do Prêmio Marcantônio Vilaça (2015), no MAC-USP, São Paulo, entre outras.

 

 

Sobre a galeria

 

A  Athena Contemporânea foi fundada em 2011 pelos irmãos Eduardo e Filipe Masini como um espaço inovador de criação, discussão e divulgação de arte contemporânea. Mais do que um espaço expositivo, a galeria se posiciona como lugar de pesquisa, de aprofundamento conceitual e de trocas artísticas, buscando sempre iniciativas inovadoras. A galeria vem se firmando como uma das mais destacadas no cenário brasileiro, representando conceituados e promissores artistas nacionais e internacionais, e investindo em parcerias com curadores e instituições para o desenvolvimento da carreira de seus artistas.

 

 

De 10 de outubro a 11 de novembro.

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