“A fé sempre foi um veículo para enfrentar as dificuldades da vida. Desde criança, eu me alimentava de fé nas pequenas coisas que me rodeavam: uma pedra bonita que encontrava no caminho logo se transformava em um amuleto de proteção. Mesmo sem ter a dimensão dos problemas sociais que me cercavam e que me marcaram desde a minha primeira infância, já sentia a necessidade de me sentir protegida espiritualmente, sobrenaturalmente… Acredito que nós, seres humanos, assim como fazemos parte da natureza e somos a natureza, também possuímos poderes transformadores por meio da fé. E a fé de que falo não se refere estritamente ao sentido religioso.
A magia popular, que chamamos de simpatias no Brasil, e tudo o que envolve esse preceito, é fascinante. O conceito místico dos símbolos, a intenção que depositamos, os saberes das ervas, as histórias de uma crença que permeia o imaginário de um povo e que se transmite por meio da oralidade são aspectos que me intrigam. Há um mistério no fato de não sabermos a raiz de onde tudo começou, mas acho interessante como esse conceito se distribui no imaginário coletivo, independentemente da religião. Isso me faz refletir sobre como esses saberes se perdem à medida que a modernidade avança.
Nesta exposição, quis retratar alguns saberes que aprendi na minha infância com os mais velhos, e também crenças que, já adulta, aprendi por meio da minha experiência em Angola, ouvindo pessoas e perguntando às tias que vendem ervas nas praças. O Brasil tem uma ligação muito forte com a cultura banto, que se misturou à cultura indígena brasileira. Vejo o quanto temos em comum, em termos de crenças populares. Dentro dessa produção, também navego no meu inconsciente, com algumas pinturas surrealistas que me fazem pensar que é no inconsciente que a fé também reside.”
Abertura, 28 de janeiro na Simões de Assis, Jardins, São Paulo.