A Galeria Pretos Novos, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ, inaugurou a exposição “Casulo”, da artista
visual Lidia Lisboa, com a curadoria de Marco Antonio Teobaldo. São vinte e uma obras em
dimensões variadas, realizadas em crochê, que lembram de imediato os formatos de casulos e
marsúpios, em que as tramas são formadas a partir de retalhos de tecidos rasgados e
reagrupados. A memória da infância da artista estabelece uma forte conexão com sua recente
produção, na qual utiliza tecidos que possibilite criar tramas, construindo volumes e invólucros
vindos de uma espécie de viagem no tempo, em que algumas passagens de sua vida eram
envoltas por fantasias e sonhos de menina.
A partir da obra “Casulo” (que também serve de suporte para a sua performance de
mesmo nome), a artista apresenta um repertório muito peculiar que trata do recolhimento e
transformação, assim como pode ser observado na Natureza. Talvez por isso a escolha do
silêncio para executar a sua performance, que sugere o movimento feito pela lagarta antes de
adormecer coberta pelos seus fios e depois se libertar, já em outro corpo. Compete à artista,
confeccionar texturas e se desfazer delas quando não fica satisfeita com o resultado. Ela
persegue a forma desejada até alcançá-la.
Criada em uma família numerosa em que predominam as mulheres, Lidia Lisboa
encontrou-se com a maternidade aos treze anos de idade. Esta experiência marcante e
incrivelmente positiva (de acordo com as próprias palavras da artista), reaparece na poética de
sua série “Ventre”. Em formatos de úteros e marsúpios, seus trançados evocam a vida que está
por vir e reiteram a feminilidade tão presente em suas obras. Este ciclo criador surge em
outros trabalhos, semelhantes às ovas de animais em um estado letárgico como se ali dentro
existissem embriões germinando e prestes a eclodir.
Mesmo flertando com a moda e o design, a artista segue com o impulso de formular
um pensamento sobre a criação da vida. Alguns de seus colares são feitos a partir da
justaposição de contas de cerâmicas moldadas a mão por ela mesma, formando um conjunto
que pode ser associado ao sagrado, tanto pela matéria de que é feito, quanto pelo formato.
Uma outra série de colares é feita a partir do desmembramento de bonecas de borracha e
plástico, reagrupadas com outros itens, de modo que formem um cordão de ordem aleatória,
mas que carrega em si uma forte carga dramática. Grande parte destas bonecas foram
encontradas pela artista, nas ruas de diferentes cidades por onde passou.
Não há como dissociar as experiências pessoais de Lidia Lisboa da sua inquietação
artística, revelando-nos uma produção biográfica, repleta de simbolismos e coberta de lirismo.
Até 17 de outubro.
CASULO
artista: Lidia Lisboa
curador: Marco Antonio Teobaldo
inauguração 19 de agosto – 18h
visitação 20 de agosto a 17 de outubro
terça a sexta – 12h > 18h
sábado – 10h > 13h
Galeria Pretos Novos
Rua Pedro Ernesto, 34 – Gamboa
fone 2516-7089
pretosnovos@pretosnovos.com.br