“Lorenzato: pintura com exercício de liberdade”, encontra-se em exibição no Paço Imperial, Centro, Rio de Janeiro, RJ.
Pela primeira vez o público carioca tem o privilégio de receber uma exposição individual do artista ítalo-brasileiro, Amadeu Lorenzato, nascido em 1900, em Belo Horizonte, Minas Gerais e falecido em 1995, na mesma cidade.
A exposição se compõe de cinquenta e nove pinturas exibidas de uma maneira em que não se torna relevante o caráter cronológico das obras, mas sim suas aproximações por afinidades poéticas e formais. Com uma trajetória singular, o artista produziu uma obra que escapa dos rótulos e classificações, muitas vezes redundantes e simplistas, e que tampouco alcança a complexidade de um verdadeiro trabalho artístico. A obra de Lorenzato está impregnada de seu cotidiano simples e de suas vivências no âmbito artístico e pessoal. Trabalhando com pinturas e esculturas, pegou emprestadas matérias e técnicas das artes decorativas e de seu ofício primeiro (pintor de paredes), do qual tirou o cimento e os pentes para criar texturas na superfície da pintura. Nesses gestos de apropriações de técnicas e materiais, o artista subverte o uso original da matéria e o reinaugura como método no seu fazer artístico. Ao produzir imagens de grande potência visual e poética e ao articular com precisão e maestria o cruzamento híbrido de saberes populares/eruditos, sua produção artística ultrapassa as escolas artísticas, sempre tão hierarquizadas, resultando uma obra atemporal e permitindo vínculos possíveis com a produção modernista brasileira e internacional. Com uma visualidade formal e estrutural sofisticada, Lorenzato nos coloca diante de uma produção que nos faz refletir e encontra ecos na produção artística contemporânea. Ele foi buscar no seu cotidiano simples os “temas” de suas obras: imagens de casas, paisagens e retratos de pessoas próximas, e naturezas-mortas. O universo do artista nos é apresentado em uma ótica amorosa e afetiva. Ele usa suas experiências vivenciais como matéria para produzir um discurso visual, rico, intenso, poético e ao mesmo tempo absolutamente impregnado de um modo de vida permeado pelo exercício de liberdade.
Efrain Almeida e Wilson Lázaro
Até 05 de agosto.