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AGENDA CULTURAL

Mameluca na ARTRio

Entre os dias 10 e 13 de setembro a Mameluca comemora os 50 anos da Tropicália no Stand 1 na IDA/ARTRio, no Armazén 4, Cais Mauá, Rio de Janeiro, RJ.

 

 

A palavra dos criadores

 

Acreditando que a filosofia tropicalista foi algo que jamais acabará, celebramos agora os 50 anos do seu inicio, criando uma coleção inspirada nesta que é uma das principais manifestações artísticas do Brasil. Assim, fizemos uma imersão nesse movimento político-cultural, buscando traduzir seus conceitos em objetos que registram a filosofia da época e acompanham os movimentos experimentais do design e os parâmetros da Mameluca.

 

O que apresentamos é apenas mais uma visão de um movimento de resgate da essência, do amor próprio e da fé do povo brasileiro.

 

Não existe a verdade se você não a vive;

Não existe a crueldade se você não a sente;

Não existe o amor sem o sublime;

Não existe a fé sem a perseverança;

Não existe o design sem existirem as diferenças.

 

 

 

TROPICANDO

 

A Tropicália foi um movimento de reflexão cultural, que teve início em 1967, como uma alternativa criativa de manifestação político-social. Os tropicalistas acreditavam que as novas políticas existentes no Brasil (após 64) só serviam a uma cultura elitista. Segundo José Celso Martinez Correa, “para expressar uma nova e complexa realidade, foi necessário reinventar formas que capturassem essa nova realidade”. Para os tropicalistas, a cultura consistia em mecânicas de apreensão, interpretação e reformulação da circulação da informação, e isso foi potencializado por eles através do carnaval, da música nordestina e da arte de rua, atingindo a grande massa brasileira. Oswald de Andrade, em seu Manifesto Antropófago (1928), dizia: “Só a antropofagia nos une”, o que fez com que os tropicalistas percebessem o Brasil como um país miscigenado, com índios, africanos e europeus, e que precisava de uma libertação moral em prol do diferente. As informações precisavam tocar todos os tipos de pessoas.

 

As criações e movimentações artísticas que aconteceram durante a Tropicália provocavam o público, apontando as disparidades, os descompassos e a multiplicidade de materiais. As imagens se desdobravam, contrariando umas às outras e potencializando tensões. Influenciado pela Pop Art americana e pelo Realismo Francês, o Tropicalismo usou e abusou dos elementos brasileiros para destacar a questão nacional: psicodelismo em verde e amarelo, linguagem publicitária e meios de comunicação em massa.

 

“POR QUE NÃO? Por que não ver a identidade nacional do Brasil como um processo aberto, em desenvolvimento permanente?” Barreiras e limites eram quebrados em cada palavra, cada objeto. Tudo era pensado em como fazer uma vida melhor, mostrando às pessoas que não havia o definitivo. Existiam questionamentos saudáveis, tais como: “Por que limitar as possíveis experiências, realizando a arte através de uma forma pré-concebida?”.

 

Martinez: “só existe crítica quando se tem História em progresso”.

 

Em sequência, Oiticica, movido pelo Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade, acrescentou: “Antropofagia seria a defesa que temos contra a dominação externa.”

 

Acreditando que a filosofia tropicalista foi algo que jamais acabará, celebramos agora os 50 anos do seu inicio, criando uma coleção inspirada nesta que é uma das principais manifestações artísticas do Brasil. Assim, fizemos uma imersão nesse movimento político-cultural, buscando traduzir seus conceitos em objetos que registram a filosofia da época e acompanham os movimentos experimentais do design e os parâmetros da Mameluca.

 

“Não pregamos pensamentos abstratos, mas comunicamos pensamentos vivos”, afirmavam os tropicalistas.

 

A Tropicália usou de uma inovação estética como fórmula revolucionária, assim como a Mameluca experimenta as novas formas de pensamento dos objetos. A Tropicália conjuga experimentalismo e crítica; a Mameluca utiliza a crítica como laboratório experimental. Inspirados nesse período da História, apresentamos móveis musicais, objetos que vibram, distorcem e se aglutinam; idéias que acendem a curiosidade sobre questionamentos, como Por Quê?, Onde?, Como?

 

A introdução da guitarra elétrica na música brasileira nos fez pensar, por exemplo, no efeito visual que as distorções sonoras produziriam na mente das pessoas. Assim, retratamos visualmente o efeito causado pela multiplicação dos cabos de guitarras sobrepostos uns aos outros durante o movimento. Por se tratar de uma inspiração sonora, montamos o objeto solto no espaço e demos o nome de Vertigem.

 

Em 1967, durante o 3º Festival da Canção, Caetano Veloso apresentou a música “Alegria, Alegria”, que viria se tornar um dos ícones do Movimento Tropicalista. Em tom contido, com sua camisa de gola rolê laranja e seus olhos brilhantes, ele traduziu todo o sentimento ofuscado pelos transtornos políticos da época. Esse é o momento retratado na peça Iluminado.

 

Já o Manifesto Antropófago, documento fundamental para o movimento tropicalista, está retratado no bar Antropófago. Seus onze mil espinhos criam uma espécie de antropofagia do objeto, onde perdemos a percepção das formas, através da fagocitose entre o bar e os objetos que estão dentro dele. Sua forma é inspirada na mistura da bandeira brasileira com as nuvens de pensamento usadas na linguagem de histórias em quadrinhos e fotonovelas típicos dos anos 70.

 

Durante o final da década de 60, auge da repressão política no país, uns eram acolhidos, enquanto outros buscavam sobreviver com seus próprios pensamentos. Os Mutantes foram alguns dos poucos que sobreviveram à crueldade da época, mantendo suas crenças vivas. Eles aqueciam a alma sempre que seus pensamentos palpitavam emoções. Quisemos retratar o cérebro do grupo com uma mesa chamada Portento que altera de humor de acordo com sua percepção sonora, exatamente como os mutantes refletiam seu estado de espírito através de suas músicas.

 

Revolucionando o conceito de objeto nas artes plásticas, Hélio Oiticica criou os Bólides, caixas para guardar suas memórias, manifestações e desejos velados. Unindo-os aos seus penetráveis, criamos o objeto Transestruturas, peça com escala cromática translúcida, que altera sua percepção visual, gerando inúmeras utilidades e possibilidades de composições.

 

Os Parangolés, de Hélio Oiticica, serviram como fonte de inspiração para a criação de uma poltrona de balanço Supra. Panos, sarjas, plásticos, entre outros materiais sobrepostos, ganhavam sentido de acordo com a experiência de quem os vestia. Seu giro era mágico, explodia as expressões guardadas dentro de cada um. Era o momento em que as pessoas entravam em contato consigo mesmas. Nosso balanço retrata a riqueza dessa criação, fazendo um contraponto à obra de Oiticica. Utilizando materiais nobres, cada peça sobreposta tem uma função, com o objetivo de provocar uma experiência prazerosa de reflexão.

 

A favela foi um local de grande inspiração para os Tropicalistas. Era onde se buscava a raiz do povo, seus sonhos e necessidades. No morro da Mangueira, Hélio Oiticica explorou a arquitetura das favelas. A partir daí, em 1967, apresentou a obra Tropicália no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM, durante a exposição Nova Objetividade.

 

“O ato de entrar no trabalho se produz a sensação que se está pisando no chão novamente.” – Hélio Oiticica

 

Buscando a alma da brasilidade apresentada nessa frase, criamos uma peça onde a desorganização visual paira. Na peça Cafofo, encontra-se a essência das nossas riquezas naturais. Quatro bólides, espalhados aleatoriamente, trazem, cada um, uma matéria prima originária do solo brasileiro. Árvore, borracha, metais e pedras preciosas são encontradas em pó, proporcionando uma experiência de percepção visual e sensorial ao mesmo tempo. Como o intuito de celebrar a miscigenação brasileira, buscamos as raízes do nosso povo, desde a colonização. A realidade da nossa história racial foi uma surpresa para nós. Hoje, por exemplo, temos apenas o percentual de 10% de sangue indígena brasileiro, para 30% de africano e 60% de europeu, em média. Com esses dados em mente, criamos a luminária Ninho que repete essa mesma proporção presente no DNA do brasileiro, combinando madeiras de cada continente.

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