A Galeria de Arte Mamute, Centro Histórico, Porto Alegre, RS, apresenta a exposição “DEPOIS:”, individual de Fernanda Valadares. A mostra, com curadoria de Gabriela Motta, propõe um encontro de espaços a partir de um percurso horizontal feito pela artista no trecho de mais de 1.000 km e apreendido em uma série de pinturas de encáustica sobre compensado naval e cubos/objetos em chapas de aço com áreas de horizontes oxidados.
Texto da curadora
Antes, durante e DEPOIS:
A cena que me assalta é a seguinte: a caminho do trabalho, ao cruzar uma ponte sob a chuva, um professor impede uma jovem de se jogar. Depois disso – e do livro que ele acha com a menina – nada será como antes(1). Tenho a sensação de ter encontrado a Fernanda – seguramente não à beira de um abismo – mas em uma dobra importante do seu caminho. Conheci primeiro seu trabalho em encáustica: largos horizontes, delicados, precisos, sutis. Dois dias depois, ela mesma: gesticulando, cabelos amarrados com uma larga faixa, inquieta. Se a urgência e a agitação da artista não estavam na contemplação e no tempo expandido da obra que eu havia visto, estavam no que ela iria me falar.
Nesse encontro, as Migrações, com suas respectivas coordenadas geográficas – assim ela nomeia esses trabalhos, indicando o ponto de vista preciso de cada horizonte – ao contrário do que eu pensava, não eram a pauta. Fernanda queria falar de um projeto urgente, ainda próximo à paisagem, ainda tóxico ou árduo em função dos seus suportes, porém um projeto que lhe pedia para mudar violentamente de posição em relação a sua própria produção. Ela estava diante de um risco e não recuou.
Na exposição Depois: o que se vê são alguns desses trabalhos em encáustica, alinhados em um único e contínuo horizonte, como se pudessem expandir-se indefinidamente, e cinco cubos em aço corten, em diferentes tamanhos e situações. Em todos esses cubos – um aberto em cruz sobre o chão da galeria, outro absolutamente soldado, dois em vias de se fecharem e outro retorcido após ter sido arremessado de um helicóptero! – Fernanda oxida aqueles mesmos horizontes que encontramos nos trabalhos em encáustica. Encapsular a paisagem em um sólido geométrico – o seu horizonte – e depois arremessar este objeto de um helicóptero é uma atitude radical, um gesto que permite uma vasta gama de interpretações e abordagens. A minha primeira leitura do trabalho – porque tudo é muito recente, a ação, a artista, o vôo – é de que tudo isso está impresso na obra. Ou seja, o aço corten, tão importante na arte contemporânea, a paisagem oxidada cuja referência não é mais o horizonte da natureza mas aquele da sua própria obra anterior, as negociações para carregar o objeto num vôo e depois arremessar esse peso do céu, tudo isso está impregnado no trabalho lhe conferindo densidade. A expansão indefinida de horizontes na obra de Fernanda está acontecendo no momento presente. E isso envolve a contração literal da paisagem em segredos cúbicos, objetos que encontram o mundo cheios de verdade. (Gabriela Motta)
(1)Trem Noturno para Lisboa. Direção: Bille August, 2013.
Sobre a artista
Fernanda Valadares é Mestre em Poéticas Visuais pelo Programa de Pós-Graduação de Artes Visuais/UFRGS; Bacharel e licenciada pela Faculdade Santa Marcelina/São Paulo. Entre suas exposições individuais estão – À Beira do Vazio. Museu de Arte de Santa Catarina. Curadoria Paula Ramos (2014). O Sétimo Continente. Galeria Zipper São Paulo(Projeto Zip’Up). Curadoria Bruna Fetter (2014). Na Adega Evaporada. Museu de Arte Contemporânea do RS. Curadoria Paula Ramos (2014). Museu de Arte Extemporânea. Goethe Institut/Porto Alegre (2012). Exposições coletivas: De Longe e de Perto. Galeria de Arte Mamute. Porto Alegre. Curadoria Angelica de Moraes (2014). Gatomiacachorrolateegomata. Galeria Tina Zappoli. Porto Alegre/RS (2014). The War of Art: visions from behind the mind. The Safari, NYC. Curadoria Wyatt Neumann (2014). Poéticas em Devir. Galeria Mamute Porto Alegre/RS. Curadoria Sandra Rey (2013). Um Novo Horizonte. Galeria Tina Zappoli. Porto Alegre/RS (2013). Contemporâneos Novos/ Diante da Matéria. 20 anos MAC/RS. curadoria Paula Ramos (2012). A artista participou de salões e premiações como o 65º Salão Paranaense, MAC/Curitiba. 42º Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto/ Santo André. 64º Salão de Abril/CE. Fortaleza.Trabalho selecionado para o Acervo Museu de Arte Contemporânea do RS. XIII Concurso de Artes Plásticas Goethe Institut/Porto Alegre. I Concurso Itamaraty de Arte Contemporânea. Ministério das Relações Exteriores. Fernanda Valadares é representada pela Galeria de Arte Mamute/Porto Alegre.
Sobre a curadora
É curadora, crítica e pesquisadora em artes visuais. Atualmente desenvolve pesquisa de doutorado sobre o artista Nelson Felix no Programa de Pós Graduação da Escola de Comunicação e Artes da USP. Faz parte do comitê de indicação do Prêmio IP Capital Partners de Arte – PIPA 2015. Em 2014, fez parte da comissão curatorial do prêmio Marcantonio Vilaça CNI-SESI/2014. Integrou, como curadora, a equipe do programa Rumos Itaú Artes Visuais, edição 2011/2013 e edição 2008/2010. Em 2012 desenvolveu projetos com as instituições MAC – USP, MAC Niterói e Fundação Iberê Camargo. Em 2010 foi contemplada com a Bolsa Funarte de Estímulo à Produção Crítica em Artes Visuais. De 2008 à 2010, fez parte do grupo de críticos do Centro Cultural São Paulo. Como curadora realizou as exposições CANTOSREV, do artista Nelson Felix (Porto Alegre, 2014), Canto Escuro, do artista Luiz Roque (Porto Alegre, 2014), Um vasto Mundo, da artista Romy Pocztaruk (Curitiba, 2014), A invenção da Roda, da artista Letícia Ramos (Porto Alegre, 2013), as exposições coletivas Fio do Abismo (Belém, 2012); 41a Coletiva de Joinville (Joinville, 2011); Era Uma Vez um Desenho (Porto Alegre, 2010); Convivência Espacial ( Recife e Porto Alegre, 2010); O Corpo das Coisas (Jaraguá do Sul, SC, 2010); Terra de Areia (Florianópolis, 2009); Campo Coletivo (São Paulo, 2008); Linha Poa – Cxs (Caxias do Sul, 2007); entre outras. Integrou o projeto Arte e Identidade Cultural na Indústria, promovido pelo SESI-RS (2007-2008). É autora do livro “Entre olhares e leituras: uma abordagem da Bienal do Mercosul”, publicado pela editora ZOUK. Tem artigos publicados em diversas revistas especializadas e em catálogos sobre arte contemporânea.
A partir de 13 de março com visitação entre 16 de março e 30 de abril.