A exposição retrospectiva do artista Marcello Nitsche abarca sua extensa trajetória, desde a
década de 1960 até dias atuais. Sua carreira artística é marcada pelo diálogo estreito com a
cultura pop, pela leitura ativa da paisagem e dos signos urbanos, pela exploração de diversas
linguagens – como pintura, desenho, intervenções no espaço urbano e a realização de filmes
em super-8 mm. Destaca-se, igualmente, sua atuação nos debates e projetos obre arte-
educação e no cenário político da redemocratização do país, nos anos 1980, sobretudo pela
realização da identidade visual da campanha Diretas Já. A mostra reúne mais de cem do artista
nas últimas cinco décadas.
“LIG DES” leva à área de convivência da unidade Sesc Pompeia, Água Branca – Oeste, São
Paulo, SP, grandes esculturas infláveis denominadas bolhas, esculturas de pequeno porte,
obras de suportes e características variadas, maquetes de obras para locais abertos, desenhos,
pinturas, registros em fotografia e em filmes em 8mm, documentando acontecimentos em
torno de sua obra.
O diálogo entre o espaço do Sesc Pompeia e a mostra é um destaque a parte, em que se revela
um fator potencializador para a exposição. Segundo a curadora, Ana Maria de Moraes
Belluzzo, “LIG DES” dialoga com as características do espaço, que já foi uma fábrica,
transformado em ambiente nada convencional de cultura e convívio por Lina Bo Bardi”.
Texto da curadora
A nova visão da natureza moderna impõe-se pela paisagem urbana aos jovens artistas
brasileiros atuantes em meados dos anos 1960. Fábrica e cidade constituem a moderna
paisagem e marcam, de modo peculiar, a experiência artística de Marcello Nitsche entrelaçada
à vida de São Paulo.
A presença dessas obras no espaço da fábrica do Sesc Pompeia é um estimulante ponto de
partida. O local, transformado pela imaginação da arquiteta Lina Bo Bardi em espaço não
convencional de convívio e cultura, atualiza sua vocação ao mostrar essa obra aberta à
existência no espaço urbano.
A experiência de Marcello Nitsche se desdobra num momento em que se agitam convenções
artísticas e o país é assaltado por profundas transformações políticas e culturais, momento em
que artistas alargam o campo perceptive e lançam mão da apropriação estética de coisas que
povoam o entorno imediato dos habitantes da cidade.
A contribuição precoce de Marcello brota no interior de movimentos de renovação cultural no
país, em diálogo com coletivos internacionais da época pop, em meio ao debate sobre o novo
realismo e o retorno à figura. É parte dos avanços da nova objetividade brasileira. Em âmbito
paulista, as experimentações acolhidas pelo grupo REX contam com o substrato trazido ao
debate por mestres da Faap, afinados com a pauta arquitetônica.
Em diálogo com diferentes interlocutores, sua obra irrompe no vigor das concepções, sob
diferentes mídias. No teor experimental dos anos 1960, 1970, 1980, apuram-se aberturas para
contemporaneidade.
A apreciação retrospectiva do repertório do artista deve-se à cordialidade das coleções
públicas e privadas e à presença de versões fac-similares de peças desaparecidas, construídas
pelo Sesc para a ocasião.
Que o caráter inaugural dessa obra chegue às novas gerações, reproduzindo a surpresa vivida
por seus pares com o aparecimento de cada novo trabalho de Marcello.
Ana Maria de Moraes Belluzzo
Sobre o artista
Marcello Nitsche é paulistano, e seu trabalho se apresenta nos anos 1960, em meio ao cenário
de uma São Paulo que tem sua paisagem transformada pelo crescimento urbano industrial.
Até 30 de agosto.