A Casa Nova Arte e Cultura Contemporânea, Jardim Paulista, São Paulo, SP, inaugura a exposição “Ulla, Ulla, Ulla, Ulla! Marcianos, Intergalácticos e Humanos”,com curadoria de Jane de Almeida. Em paralelo à 32a Bienal de São Paulo a coletiva apresenta obras com inspiração “alienígena” dos artistas David Medalla (Filipinas), Fernando Duval (Brasil), Henrique Alvim Corrêa (Brasil), Kiluanji Kia Henda (Angola) e OlafBreuning(Suiça).
A mostra propõe ao público a reflexão sobre imagens clichês da ciência, a construção de seres e objetos do espaço exterior, além da produção de utopias no século XXI. Partindo da ideia de que estamos vivendo tempos políticos estranhos e “mensagens ambíguas vêm sendo transmitidas por seres intergalácticos ao planeta Terra”, a curadoria convida “artistas com contatos especiais com o cosmos” para esta exposição. De acordo com a curadoria, “alguns artistas ousam decodificar figurativamente seres espaciais desconhecidos, outros invertem e alteram as imagens científicas, alguns se apresentam com a própria forma alienígena e outros elaboram utopias para o século XXI. “Ulla, Ulla, UllaUlla!é composta por 5 artistas brasileiros e estrangeiros.
O destaque da exposição são as obras do artista brasileiro Henrique Alvim Corrêa (1876 – 1910), criador das ilustrações de “Guerra dos Mundos”, ficção e clássico do autor britânico H.G. Wells no qual relata a invasão de marcianos na Terra e que completa neste ano 110 anos desde seu lançamento. Será exibida uma edição original do livro “Guerra dos Mundos” de 1906, com 31 gravuras feitas por Alvim Corrêa, além de cinco desenhos originais que deram origem a esta edição do livro. A exposição apresentará também uma pintura a óleo inédita produzida em 1900.
David Medalla, artista filipino que será homenageado na próxima Bienal de Veneza, apresenta as obras “Stitch in Time AroundMars” (Costurando no Tempo ao Redor de Marte) e “CosmicPandora’sMicro-Box”(Micro-Caixa de Pandora Cósmica). O primeiro consiste em uma instalação que convida o público a bordar em um tecido suas utopias sobre a possível existência de planetas e seres desconhecidos e o último trabalho, que foi desenvolvido durante sua estadia em São Paulo em 2010, apresenta dejetos e objetos coletados pelo artista, criando uma ‘caixa de pandora’ contemporânea. São Paulo, desta forma, transforma-se no “cosmos” de Medalla.
O angolano Kiluanji Kia Henda, destaque da última Bienal de São Paulo e Bienal de Veneza, apresenta a obra “The badguysandgoodguys” (Os caras bons e os caras maus) de 2016, composta por uma série de 10 serigrafias que traça uma narrativa sobre a influência da Guerra Fria na África. O título do trabalho e as legendas foram apropriadas do documentário “Histórias da Guerra Fria”, produzidos em 1997 pelo fundador da CNN, Ted Turner. As imagens alienígenas contrastam com as legendas de guerra, compondo a ideia primeira da exposição: como as práticas políticas se desassociam da realidade do cidadão comum, tornando-se alienígenas e alienadoras.
Fernando Duval, artista brasileiro, participante da última Bienal do Mercosul, traz a obra “Instrumentos musicais de Wasthavastahunn”, série de desenhos de 2010 na qual apresenta os instrumentos musicais de seu universo artístico pertencente ao planeta “Fahadoica”, da Galáxia de Washemin. Estes instrumentos pertencem à importante instituição wasthiana que é o Instituto do Silêncio. O universo artístico de Duval produz um referente paralelo ao nosso universo científico e às nossas instituições “reais”.
Outro destaque é o artista suíço OlafBreuning que apresenta os vídeos “Home 1”, de 2004 e “Home 2”, de 2007 e “Cansomeonetelluswhywe are here”(Alguém pode nos dizer porque nós estamos aqui), instalação de 2010. OlafBreuning, possui obras em importantes galerias de arte como a Saatchi de Londres, e com apresentações em importantes espaços artísticos como a WhiteChapel, o Centre Georges Pompidou ou a Bienal do Whitney é muitas vezes considerado “freak” (bizarro), ou como ele mesmo gosta de se considerar “naif”(ingênuo). Breuning é, ele mesmo, um “alien” da arte contemporânea e seus filmes “Home 1”e “Home 2” desafiam não só os limites entre realidade e ficção, mas também os conceitos instituídos de obra de arte.
O nome da exposição, “Ulla! Ulla! Ulla! Ulla! Marcianos, Intergalácticos e Humanos”, foi inspirado em manifestos futuristas das utopias socialistas dos soviéticos. Refere-se ao som das naves marcianas da obra de H.G Wells e ao manifesto “A trombeta dos marcianos” do poeta russo VelimirKhlebnikov. Escrito em 1916, este ano marca o centenário do manifesto que faz uma espécie de convocação para se pensar a arte e a invenção. Um outro manifesto posterior, assinado pelo intelectual russoViktor Shiklovsky, também faz uso do “Ulla, Ulla” para receber alienígenas que literalmente deveriam alienar os humanos”, diz Jane de Almeida.
A mostra conta, ainda, com uma série de encontros nomeados “Utopias e Escapismos do Século XXI – ou, Como decodificar o que a classe política quer nos dizer. Ulla, Ulla!”. A programação dos encontros será divulgada no decorrer do período expositivo.
Até 02 de novembro.