Encontra-se em cartaz até 05 de novembro duas exposições na Galeria Raquel Arnaud, Vila Madalena, São Paulo, SP. São elas: Shirley Paes Leme e Nuno Sousa Vieira.
“Suspiro em vão” de Shirley Paes Leme exibe obras poéticas que relacionam o tempo, o ar e o caos da cidade grande, enquanto “Um entre nós” de Nuno Sousa Vieira tensiona as hierarquias entre o espaço e o espectador.
As obras de Shirley Paes Leme que compõem a mostra “Suspiro em vão”, reúne cerca de 20 obras, a curadoria tem como eixo-central duas séries bastante conhecidas da artista, que têm sido trabalhadas há anos. A primeira consiste em composições geométricas feitas a partir de filtros de ar-condicionado de automóveis. Estes, tingidos com a poluição da cidade, são meticulosamente trabalhados através da extração de resíduos, adquirindo múltiplos tons de cinza e fazendo alusão aos arranha-céus das grandes metrópoles. Já na segunda, frases como “O invisível mais longe”, “Respiração”, “O ar uma miragem”, “Tempo” e “O pó habita” são extraídas de seu caderno de poemas e anotações, materializando-se em relevos de bronze e pátina preta feitos a partir de sua própria caligrafia. Todas as frases em forma de obra também foram incluídas no texto crítico de Paula Borghi. A cidade, o tempo, os resíduos, a fumaça, o pó, o ar, a respiração. São todos temas recorrentes na produção de Shirley Paes Leme e o ponto de encontro entre as duas séries da exposição. São obras que nascem de experiências e reflexões da artista a partir das coisas mais simples, e ao mesmo tempo complexas, da vida.
A exibição individual “Um entre nós” de Nuno Sousa Vieira, conta com texto crítico de Jacopo Crivelli Visconti. Com uma série de desenhos, uma pintura e uma escultura, montada no jardim, que se conecta de forma intrínseca com as obras do espaço expositivo interno, esta exposição reforça a relação entre o dentro e o fora, a frente e o verso. Nuno propõe uma “desierarquização” entre as obras em si, mas também entre a obra e o público que, como diz o artista, também assume o seu lugar, visto que é parte da sua condição não apenas justificar a existência da obra, como também lhe conferir posteridade. O artista comenta: “No meu trabalho, as obras são o resultado de uma ação politicamente igualitária na qual as hierarquias, por um lado, se dissipam, mas, por outro, são questionadas; e o raso está em pé de igualdade com o que se encontra numa conta mais elevada; o interior está empatado com o exterior; a frente e o verso são simultaneamente a mesma face de um mesmo plano, até porque nenhum dos demais pode existir sem o outro”.