A Sala A Contemporânea do CCBB, Centro, Rio de Janeiro, RJ, inaugura, a individual “Zona Temporária”, da artista mineira Cinthia Marcelle, ganhadora dos prêmios Future Generation Art Prize, Ucrânia (2010), Annual Gasworks/TrAIN artist in residency, Inglaterra (2009), International Prize for Performance, Trento, Itália (2006) e V Mostra do Programa de Exposições, CCSP, Brasil (2005).
“Zona temporária” reúne dez vitrines de alumínio, de 220 x 150 x 25 cm, vedadas com papéis de cores variadas – branco, cinza, pardo, laranja, rosa, instaladas de forma não linear, ocupando os 150 metros quadrados deste espaço expositivo do CCBB. Individualmente intitulados “Temporário”, os trabalhos foram pensados para serem expostos em conjunto. Esta é a primeira vez que a artista realiza o projeto em sua totalidade.
Completa a mostra, centrada na ideia de crise e estagnação econômicas, o vídeo inédito “Automóvel”, de 2012, no qual “o ritmo cotidiano de uma via de trânsito se revela, subitamente, um trabalho de Sísifo”, descreve a artista. Na mitologia grega, Sísifo se tornou conhecido por executar um trabalho rotineiro e cansativo.
A inspiração de “Zona temporária” partiu da estética das vitrines provisoriamente desativadas de centros urbanos. O primeiro trabalho desta série data de 2011, mas a artista começou a fotografar fachadas temporárias em 2006, em Havana, quando esteve em Cuba para participar da bienal naquele ano. A partir daí, registrou vitrines cobertas em Londres, Nova York, Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, sua cidade natal, onde vive e trabalha. As fotos funcionaram como arquivos e objetos de pesquisa.
Cinthia Marcelle quis deslocar e transformar esse gesto improvisado das ruas, uma paisagem urbana, para a galeria de arte, convertendo-o em aparência mais plástica, de geometria e cor. As vitrines são cobertas por camadas de papéis superpostos, presos por fitas adesivas camufladas, diferente do que acontece na ruas, onde não há essa estetização e pode-se ver as fitas. Os planos de papel construídos pela artista criam uma relação histórica com a pintura geométrica e o neoconcretismo. Os gestos nunca se repetem. Cada vitrine é única.
Sendo uma situação temporária, o material é de baixo custo, tal como nesta mostra. Cinthia Marcelle usa papel kraft, papel manilha, papelão etc, conforme eles são encontrados à venda, às vezes afetados pelo tempo. Ela descreve a colocação do papel como “um malabarismo”, pois a vitrine é fechada, e só através da porta de correr, a artista consegue estruturar as camadas desse material. Na sala de exposição, as peças, que têm luz fluorescente por dentro, viram uma espécie de barreira na relação com o espectador. Não se vê o que há dentro, em razão da opacidade do papel.
Sobre a artista
Cinthia Marcelle nasceu em Belo Horizonte, em 1974. É formada em Belas Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais. Entre as mostras de que participou destacam-se a do Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte (2005), a Bienal de Havana de 2006, Bienal de Lyon, França (2007), Panorama da Arte Brasileira, São Paulo e Madri (2007-2008), 29ª Bienal Internacional de São Paulo (2010), Pinchuk Art Center, Kiev, Ucrânia (2011), Tate Modern, Londres (2012), Trienal do New Museum (2012), Dundee Contemporary Art, Escócia (2012), “Prelúdio: O interior está no exterior”, Casa de Vidro, São Paulo, (2012). A produção da artista transita por linguagens diversas, como o desenho, a fotografia, o vídeo e a performance. De setembro a dezembro de 2012, teve individual com cinco de seus vídeos no projeto “High Line Art”, em Nova York.
De 15 de janeiro a 17 de fevereiro.