A mostra reúne trabalhos que evidenciam sua produção artística dos últimos cinco anos, período em que Nazareth Pacheco viveu o luto de seus pais, figuras importantes em sua trajetória e formação, e algumas tantas intervenções cirúrgicas em seu corpo, decorrentes de um problema congênito que a acompanha desde a infância. É assim que a artista conjuga passado e presente, ideia aparente em Registros (2019), instalação feita a partir de recortes de exames médicos seus e dos seus pais. Fincada no teto da Galeria, a obra se esparrama até o chão e faz lembrar uma espécie de cascata, densa e fluida como a vida.
Nazareth cresceu em um ambiente de incentivo aos trabalhos artesanais, com mãe e avó adeptas ao tricô e ao bordado. Foi com elas que aprendeu o ofício, na época de extrema importância para lhe ajudar a desenvolver habilidades com as mãos, que também passaram por processos cirúrgicos. É dessa memória que surge Vida (2019), trabalho composto por camisolas de sua mãe, vestes distintas e delicadas, hoje apresentadas com restauros de pérolas e cristais, uma ressignificação singela para as avarias deixadas pelo tempo. A intimidade com os objetos clínicos é uma constante na vida e na obra da artista, não apenas pelas sucessivas operações, mas, também, por sua figura paterna. Em homenagem a seu pai, médico neurologista, Nazareth exibe DELE (2018), uma tríade de instrumentos fundidos em bronze. Sem medo ou pudor, Nazareth Pacheco convida o público a imergir em seu íntimo. É o que faz na série Momentos (2017), na qual exibe registros em polaroids do pré e do pós-operatório de uma de suas inúmeras cirurgias.
Na ocasião da abertura, a artista lançou um livro que documenta seus mais de 30 anos de trajetória. Intitulado “Nazareth Pacheco”, a publicação foi idealizada pela artista e contou com a colaboração de colegas de longa data. O livro foi organizado por Regina Teixeira da Costa e contempla análises de autores de diversas gerações, como Ivo Mesquita, Marcus Lontra da Costa e Tadeu Chiarelli, além de críticas inéditas assinadas por Cauê Alves e Moacir dos Anjos.