O Instituto Moreira Salles, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, inaugura a exposição “Lugar nenhum”, com 56 obras, entre pinturas e fotografias, produzidas por oito artistas contemporâneos brasileiros: Ana Prata, Celina Yamauchi, Lina Kim, Luiza Baldan, Marina Rheingantz, Rodrigo Andrade, Rubens Mano e Sofia Borges. A exposição tem curadoria do crítico de arte Lorenzo Mammì e da coordenadora de artes visuais do IMS, Heloisa Espada. No dia da abertura, às 17h, o IMS realiza uma mesa-redonda com os curadores e Sérgio Bruno Martins, crítico de arte e doutor em história da arte pela University College London.
Para compor a mostra, os curadores partiram da constatação de que um número significativo de fotógrafos e pintores contemporâneos brasileiros se interessam por assuntos comuns: lugares quase sempre vazios e anônimos, objetos e situações triviais. Por isso, o título da exposição está diretamente ligado ao conceito de terrain vague (terreno vago) – cunhado pelo arquiteto catalão Ignasi de Solá-Morales –, que são espaços aparentemente esquecidos, vazios, que no presente evidenciam um resquício do passado.
“Lugar nenhum” reúne artistas com percursos e referências distintas que, postos lado a lado, sugerem um sentido comum. Os três pintores que participantes – Marina Rheingantz, Ana Prata e Rodrigo Andrade – trabalham a partir de imagens fotográficas retiradas de diversas fontes. Embora a fotografia seja para eles uma potente fonte de ideias, a técnica detona um processo criativo que visa a desafios próprios à pintura. Os fotógrafos, por sua vez, cada um a seu modo, demonstram a mesma liberdade do pintor para interferir na cena registrada, seja modificando o lugar fisicamente, como faz Rubens Mano, seja por manipulações digitais, como fazem Lina Kim, Celina Yamauchi e, em alguns trabalhos, Sofia Borges.
Sobre as obras e os artistas
Lina Kim: as obras expostas fazem parte da série “Rooms”, 2003-2006, um de seus únicos trabalhos exclusivamente fotográficos. São três imagens de instalações – hoje abandonadas – do Exército Soviético, na antiga Alemanha Oriental.
Luiza Baldan: serão exibidas fotografias das séries “Lagos”, 2004-2007, “De murunduns e fronteiras”, 2010, “Insulares”, 2010, “Pinturinhas”, 2009-2012, “A uma casa de distância da minha”, 2012 e “Diário urbano’, 2004-2012.
Rubens Mano apresenta dois dípticos, um deles é “Entre”, que retrata uma construção abandonada já prestes a ser reabsorvida pelo mato. Há em “Lugar nenhum” mais quatro imagens de sua autoria, entre elas “Construção da paisagem”, 2010, que deriva de uma intervenção feita no Museu de Belas Artes de Córdoba, Espanha.
Celina Yamauchi adota a fotografia em branco e preto como tema, mais do que como meio. Serão apresentadas 12 imagens produzidas entre os anos de 2011 e 2012, todas com planos muito fechados, com a câmera apontada para o chão para um canto ou para uma parede. A artista fotografa com câmera digital e, posteriormente, elimina as cores da imagem. O resultado são cenas de um colorido tênue e delicado. São as imagens mais intimistas da exposição.
Sofia Borges fotografa objetos e lugares, mas também reproduz fotografias de família, imagens de livros, painéis explicativos de museus científicos. Ela apresenta imagens de diferentes naturezas lado a lado, confundindo suas origens e usos. Seu trabalho investiga e questiona a fotografia como representação da realidade.
Ana Prata: a artista não pinta as coisas, mas as imagens das coisas: “Sete Lagoas”, 2012, é um cartão postal, “Grande circo”, 2011, é uma transmissão televisiva, “Rua”, 2012, se parece com uma foto tirada de um celular. Seu processo criativo, rápido e diversificado, aproxima sua pintura da versatilidade própria da fotografia.
Rodrigo Andrade: o artista trabalha a partir de fotografias retiradas da internet, de mídias impressas ou de seu arquivo pessoal. Em uma das telas apresentadas, ele faz referência a uma fotografia do japonês Daido Moriyama. Rodrigo Andrade transpõe imagens fotográficas para a tela por meio de uma pintura sofisticada e diversa para, em seguida, cobrir parte dessa pintura com camadas espessas de tinta à óleo.
Marina Rheingantz: para Lorenzo Mammì, “se há uma pintora do terrain vague, é ela. (…) Os seis óleos sobre tela apresentados nessa exposição não apenas representam terrenos baldios, lugares abandonados em que a história continua correndo, ainda que num ritmo mais lento: eles são um desses lugares, se comportam como eles”.
De 02 de março a 02 de junho.