A Fortes D’Aloia & Gabriel – Galpão – inaugura em São Paulo, sua programação de 2025, dia 08 de fevereiro, com a nova exposição de Lucia Laguna, A propósito de duas janelas. A mostra marca o retorno da artista à cidade desde sua última exibição individual na galeria, em 2020.
Desde que começou a pintar, a janela funciona para Lucia Laguna como ponto de vista, mas também orienta as suas decisões compositivas: opera ao mesmo tempo como um sistema de ordenação do plano em quadrados e retângulos e como componente que desestabiliza a escala e cria novas vistas dentro do quadro.
Estas obras produzidas neste ano e ao longo de 2024 e 2023, marcam um momento transitivo na pesquisa da artista: recentemente, Lucia Laguna passou a ocupar um novo estúdio, deixando aquele em que trabalhou e morou por mais de 40 anos. Esse deslocamento físico leva também a uma transformação formal e temática nas suas obras, e conduz às “duas janelas” aludidas no título da exposição. Em pinturas como Paisagem nº 157 (2024), blocos e faixas monocromáticas em tons neon de verde, amarelo, laranja, vermelho e rosa são novos elementos que expandem o repertório cromático da artista enquanto aguçam as possibilidades inerentes à sua prática. Uma dinâmica de ocultamentos e ênfases visuais cria apagamentos luminosos, presenças que também escondem. Ao cortar e atravessar a superfície, essas intervenções geométricas de planos e linhas desierarquizam a perspectiva, subvertendo proporções. Construções e fragmentos de arquitetura aninham-se dentro de densas representações de mata, cruzando referências vegetais e construtivas.
Ancoradas em figuras, seus trabalhos se convertem em trechos abstratos. As diagonais incisivas, os bloqueios coloridos da superfície, os cortes decididos e as transversais que caracterizam a pintura de Lucia Laguna citam elementos construídos como muros, cabos elétricos, cercas a casas. Traduz-se assim a natureza palimpséstica da constituição urbana do Rio de Janeiro. A presença dessa paisagem labiríntica impõe uma apreensão fragmentária a que a artista responde com observações às vezes micro, às vezes macroscópicas. Nascem obras profundamente situadas no ambiente, com um olhar que esmiúça e expande os arredores, implicado na construção, reconstrução e desconstrução do espaço.
A exposição é acompanhada de um ensaio escrito pelo crítico e curador Diego Matos. Agradecimento especial a Claudia Moreira Salles pelo mobiliário da mostra.
Em cartaz até 22 de março.