O Museu Afro Brasil, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, Parque do Ibirapuera, Portão 10, abre três novas exposições no dia 13 de maio. A mostra “Geometria afro-brasileira e africana” alia modernidade e ancestralidade em um conjunto de artistas afro-brasileiros e pela primeira vez, Emanoel Araujo fará parte, como escultor, de uma exposição com sua própria curadoria. Já “A quem interessar possa – Trajetos e Trejeitos de São Paulo” trará obras que integram a representação histórica da cidade de São Paulo, entre pinturas, esculturas, fotografias, documentos e objetos. Por fim, “1888” tem como tema central a relação entre a escravidão e religiosidade.
Exposição “Geometria afro-brasileira e africana”
Emanoel Araujo, fundador, diretor e curador do Museu Afro Brasil e da mostra, observa que “a geometria talvez seja a forma mais antiga de representação plástica manifestada pelas culturas ao longo do tempo. Definida em diversas manifestações, desde dos desenhos rupestres das cavernas, nas manifestações decorativas de padrões geométricos e repetitivos nos têxteis, nos adornos e escarificações de muitas etnias, pinturas corporais de africanos e também dos nossos indígenas”.
Nesta mostra será possível ver uma bela pintura de Owusu-Ankomah, um artista contemporâneo ganense radicado na Alemanha, conhecido por toda a Europa e que fez parte da premiada “Africa Africans”, no Museu Afro Brasil, em 2015.
Além de Owusu-Ankomah, também estarão presentes mais de 200 obras, como esculturas, pinturas, gravuras e outras produções de artistas como Rubem Valentim, Almir Mavignier, Edival Ramosa, Jorge dos Anjos, Washington Silveira e Rommulo Conceição, um artista que vive e trabalha em Porto Alegre.
Emanoel Araujo complementa: “Essa é a primeira vez que me envolvo como artista numa curadoria feita por mim, para dizer que a minha escultura é uma arquitetura de planos desenvolvidos com ritmos, tensões e cores sem uma representação com o real e com pensamento plástico e estético de um afrodescendente. Em 2007 apresentei na exposição “Autobiografia do Gesto”, no Instituto Tomie Ohtake, relevos que chamava ‘Cosmogonia dos Deuses Africanos’. Esta escultura era uma tentativa de unir a geometria a aspectos inidentificáveis do sagrado afro-baiano.
A geometria se identifica na arte africana, não como no ocidente, não como a arte eurocêntrica e, muito menos, como escola ou linguagem. Ela está embutida, internada no corpo de muitas das manifestações artísticas diversas, desenhadas nas máscaras, nos corpos escarificados, tecidos Kubas do Congo ou nos tecidos de Gana, como nas finas cascas de árvores dos Bambuti do Congo”.
Exposição “A quem interessar possa – Trajetos e Trejeitos de São Paulo”
Cerca de 250 obras, entre pinturas, esculturas, documentos, manuscritos, fotografias e objetos históricos, integram esta mostra, em uma representação histórica da cidade de São Paulo.
Artistas como Aldemir Martins, Antonio Henrique Amaral, Danilo di Prete, Fernando Odriozola, Massao Okinaka, Norberto Nicola, Odetto Guersoni, Quirino da Silva, Raphael Galvez, Roberto Sambonet e Yolanda Mohalyi, trazem toda a sedução da metrópole de 463 anos, que esbanja energia, vitalidade e diversidade e tem consciência de seus espaços arrebatadores e persegue em seu próprio tempo encontros dos seus metálicos caminhos.
Uma verdadeira e saudosa viagem ao passado, que permite ainda recordar, ou conhecer, objetos históricos comemorativos do Quarto Centenário de São Paulo, molduras produzidas pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo e outros objetos que todo cidadão paulistano já viu, ou ouviu falar, como cartões postais, discos de vinil, brinquedos (de indústrias paulistas), roupas e mapas antigos.
Exposição “1888”
O dia que se celebra oficialmente a abolição da escravatura é uma tentativa de reparação, que segundo o curador da mostra, Emanoel Araujo “uma reparação não reparável, uma marca do atraso. É a reparação de mais de trezentos anos de sangue derramado, de dor, de sofrimento, de brutalidade, de inconsciência, de terror, de marcas tão terríveis que parecem que nunca serão saradas, que continuam incomodando, provocando o ódio e o esquecimento daqueles que por séculos carregaram essa terra sobre as costas, sobre os ombros, sobre os pés, sobre as mãos, os olhos, os ouvidos, os sentidos. Mas os sentidos foram guardados e arquivados. E voltaram, voltaram silenciosamente, amparados por seres do infinito. Voltaram dançando, também invocados por cânticos para sarar as feridas, para curar os males e os assombros. Ainda hoje ruindo, arranhando, servindo”.
“1888” é a instalação do artista Ferrão, que Emanoel Araujo descreve como “uma espécie de altar, de Peji, louvando o que deve ser louvado. Uma grande metáfora que traz no seu interior as oferendas, como o terno ou a procissão do Congo, do Afoxé, do Maracatu, da Calunga, que têm o feitiço, a salvação e a memória de seu povo”.
A mostra consiste em uma composição que reúne 1200 fotografias que apresentam retratos colhidos nas congadas que se apresentam em manifestações religiosas do sul de Minas Gerais.
A composição também abarca 14 esculturas em ferro, pedra e madeira. No centro da sala uma escultura em ferro medindo 3,30 metros de altura chama atenção: em seu interior desce uma corrente que sustenta duas pedras envoltas em ferro (masculino) e em sua ponta superior sustenta uma forma oval em ferro rasgado com solda (feminino). No entorno da escultura central 25 pedras envoltas em ferro, número este definido a partir da somatória dos quatros dígitos do ano de 1888, serão espalhadas pelo chão representando o homem e as ferragens utilizadas no aprisionamento dos escravos.
Em outras paredes oratórios se destacam simbolizando sete orixás. Esses oratórios são confeccionados a partir da reciclagem de caixas de papelão revestidas com tecidos e resina, pintadas de preto. Dentro estão inseridos materiais diversos encontrados no dia-a-dia em referência ao consumo, sincretismo religioso.
Até 09 de julho.