A Editora Noir, promove o lançamento do livro “Minhocão” de autoria de Diógenes Moura em São Paulo dia 25 de janeiro, das 15h às 18h na Livraria Martins Fontes, Avenida Paulista, 509.
Em seu novo livro, Diógenes Moura apresenta contos sobre os inescapáveis destinos dos que vivem às margens do mais famoso viaduto de São Paulo. Em capítulos curtos, secos, vastos, e em situações limites e tragicômicas, “Minhocão” faz da arquitetura do seu elevado de concreto a geografia dos que habitam os dois lados da “cicatriz” urbana, com suas vidas recônditas e alquebradas, dentro e fora dos seus apartamentos, com vistas para o vazio e o nada da metrópole.
“Este livro traz uma coleção de gente que habita a veia desalumiada do centro da cidade. Uma anomalia encravada, onde resta um grau de vaidade, o enfeite na fala, no corpo e na casa. O mundo em ruínas e a redenção vaza, tímida, entre os escombros”.
Beto Brant (Cineasta) Trecho da orelha do livro.
O escritor Diógenes Moura é um observador e perscrutador da região em que mora em São Paulo, o bairro Campos Elíseos e seus entornos, deste 1989, vindo de Salvador, a cidade que primeiro o recebeu com sua família pernambucana.
Na metrópole onde os homens quase não mais conseguem desafiar os deuses, o autor construiu e alargou sua literatura, demarcada por personagens que lidam com seus abismos, abandonos e loucuras, tendo no retrovisor suas vidas atordoadas e/ou desfeitas em seus lugares de origem, restando à cidade de São Paulo a missão de perpetuar ou encurtar suas existências.
Em seu novo livro de contos Minhocão (Editora Noir), Diógenes Moura aproveita a experiência de ter frequentado por sete anos o Elevado Presidente João Goulart, com uma caderneta, um lápis e um olhar muito atentos não somente para o que acontecia em seus caminhos de concreto, mas, principalmente, para os habitantes dos apartamentos que margeiam os dois lados do viaduto.
“Ao longo desse período e de uma pandemia no meio, ele (Diógenes Moura) se sentou no meio-fio do Minhocão e passou a buscar vidas dos dois lados daquelas pistas elevadas que escondem a miséria sob seus pés e que passam a impressão de levar todos a qualquer lugar. Mas a sensação é de um enorme presídio de desejos, sonhos e fantasias, de onde não se sairá jamais”, escreve o jornalista, escritor e editor Gonçalo Junior, na quarta capa do livro.
Com sua dicção peculiar, sua geografia humana muito particular e uma escrita concisa e abundante em acontecimentos, Minhocão faz um retrato devastador sobre nós mesmos, o que não enxergamos e o que tentamos esconder, com personagens ordinários, vivendo no limite de suas condições materiais, desejos e frustrações, tendo como refúgio, seus apartamentos-cubículos, com seus objetos envelhecidos e resquícios de vidas natimortas. Um retrato sem arrodeio de uma sociedade high tech que teima em se autopropagar moderna, civilizada e bondosa.
Trechos do livro:
“Em um dia de domingo qualquer, tantos uns, tantos outros, Cesário Triste saiu de casa com uma caderneta e um lápis e entrou na padaria da esquina. Tomou café com leite, engoliu três bolinhas embranquecidas para não endoidar, subiu a rampa em direção ao viaduto, sentou-se na listra branca que divide as duas pistas e morreu. Em outro domingo qualquer, arregalou os olhos e começou a girar a cabeça de um lado para o outro como se estivesse sendo exorcizado. Com as pupilas dilatadas pelo susto, dedicou-se a invadir os apartamentos dos outros, aqueles que moram nas duas margens da imensa serpente de concreto que corta uma parte da cidade, onde os homens desafiam o que resta dos deuses”.
“Cada replicante que Ambrósio Terminante das Tripas enfim descongela para colocar em cima dos ombros e pedir dinheiro entre os carros no semáforo, embaixo do viaduto, leva pelo menos seis horas para a carne ficar no ponto e voltar a ter a respiração natural, o piscar dos olhos, remover a memória embutida, as lembranças dos que ficaram para trás, imaginar um rosto vivo de alguém que não sabe se um dia terá amanhãs”
Sobre o autor
Diógenes Moura é escritor, curador de fotografia, roteirista e editor independente. Nasceu na Rua do Lima, em Recife, Pernambuco. Morou durante quase 17 anos em Salvador, Bahia. Desde 1989, vive em São Paulo, no bairro de Campos Elíseos. Com o livro Vazão 10.8 – A Última Gota de Morfina (Vento Leste Editora, 104 págs.), lançado em 2021, entrou na lista dos Semifinalistas do Prêmio Oceanos em 2022. Com 11 livros publicados entre romance, contos, crônicas e poesia, já recebeu um prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), em 2010, de melhor livro de contos/crônicas por Ficção Interrompida (Uma Caixa de Curtas), também finalista do Prêmio Jabuti de 2011. O seu primeiro romance autoficcional Vazão 10.8 – A Última Gota de Morfina está sendo adaptado para o cinema pelo diretor Beto Brant.