A Pinakotheke Cultural, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, apresenta, a partir de 17 de setembro a
exposição “Opinião 65: 50 anos depois”, com curadoria de Max Perlingeiro. É a comemoração
de meio século da histórica exposição realizada no MAM-Rio. Todos os trinta artistas
participantes da montagem original estarão representados, e das setenta obras que estarão
expostas, todas foram produzidas na época, e várias integraram a mostra do MAM. Os artistas
são os brasileiros Antonio Dias, Ivan Serpa, Hélio Oiticica, Rubens Gerchaman, Ângelo de
Aquino, Adriano de Aquino, Pedro Geraldo Escosteguy, Gastão Manoel Henrique, Ivan Freitas,
Roberto Magalhães, Carlos Vergara, Vilma Pasqualini, Waldemar Cordeiro, Flávio Império, José
Roberto Aguilar, Tomoshige Kusuno e Wesley Duke Lee, e os estrangeiros Antonio Berni, Juan
Genovés, Roy Adzak, John Christoforou, Yannis Gaïtis, José Vañarsky, Peter Foldès, José
Paredes Jardiel, Manuel Calvo, Alain Jacquet, Michel Macréau, Gerard Tisserant e Gianni
Bertini.
Para chegar ao resultado que idealizou, o de reproduzir “ao máximo possível” a montagem
original, o curador Max Perlingeiro fez uma longa e detalhada pesquisa durante um ano – que
lhe tomou “24 horas por dia”. Recorreu aos amigos Antonio Dias, Roberto Magalhães e Carlos
Vergara, e a uma edição de outubro de 1965 da revista “Manchete”, que trazia fotos da mostra
no MAM, para mapear as obras. As famílias dos artistas participantes aderiram de imediato ao
projeto, e um fator decisivo foi localizar a lendária colecionadora e crítica de arte Ceres Franco,
residente em Paris desde 1951, que organizou em 1965 a exposição idealizada pelo marchand
Jean Boghici (1928- 2015). Ambos serão homenageados na mostra. Residente em Carcassonne,
e com uma coleção de 1.500 obras em um espaço público em Montelieu, França, Ceres Franco
escreveu à mão um depoimento emocionado, que estará no livro que acompanhará na
exposição, tanto em fac-símile como transcrito.
Dentre as obras da montagem original estarão “Parangolé Bandeira – P2 Bandeira 1” (1964),
de Hélio Oiticica, que apresentou seus “Parangolés” pela primeira vez no MAM junto com a
Escola de Samba da Mangueira, todos seguidos por uma multidão aos pilotis do Museu após
terem sido expulsos do salão. Outras obras que estiveram na exposição “Opinião 65” e serão
vistas na Pinakotheke são a aquarela “Estados Desunidos do Brasil” (1965), de Roberto
Magalhães; a pintura “Diálogo” (1965), de José Roberto Aguillar; a colagem de papel e metal
sobre chapa de ferro “Campanha do ouro para o Bem do Brasil” (1964), de Wesley Duke Lee; a
impressão sobre papel “Dejeneur sur l’herbe”(1965), de Alain Jacquet; a obra “Vencedor”
(1964), de Antonio Dias, um cabide de pé com construção em madeira pintada, tecido
acolchoado e capacete militar; “Sin título (Ramona levantando pesas)”, de Antonio Berni; a
pintura “Crianças e pássaros”, de Yannis Gaitis; “Negative Objects” (1963), de Roy Adzak;
“Diálogo” (1965), de Jose Roberto Aguilar; “Fuga” (1965), de Juan Genovés; o guache sobre
papel “Sem título” (1965), de Gerard Tisserand; “Personnages” (1964), de Jack Vanarsky; “La
barbecue de Justine” (1962), de Gianni Bertini; a pintura “Sorcellerie” (1964), de John
Crhristophorou; “Na cidade do extermínio (Segundo poema de Bialik)”, de José Jardiel; “La
vierge et as mère” (1964), de Michel Macréau; “Dejeneur sur l’herbe” (1965), de Alain Jacquet;
“UDN (Respeitosamente) – o extinto era muito distinto…” (1965), de Flavio Império, e “Estória
(O fim da idade do chumbo)”, 1965, de Pedro Geraldo Escosteguy.
“Opinião 65: 50 anos depois” não obedecerá a uma ordem cronológica. “Como na montagem
original, será tudo junto e misturado”, avisa Max Perlingeiro. “Era uma mostra ultrassaturada,
com um fator muito forte: estavam todos contra o regime militar”, observa. As obras
pertencem a coleções públicas e privadas, como a de João Sattamini, Gilberto
Chateaubriand/MAM Rio, Jean Boghici, entre outras
Marco na História da Arte
“Opinião 65” foi um marco na história da arte. A polêmica exposição idealizada por Jean
Boghici e organizada por Ceres Franco mudou por completo o cenário das artes plásticas no
Brasil. A ideia era reunir no Rio os artistas internacionais que trabalhavam no Novo Realismo
europeu e os brasileiros que assumiram a Nova Figuração (e um pouco da Pop Art americana)
em oposição à exaurida Abstração. Para o artista Roberto Magalhães, “Opinião 65 foi o início
de tudo o que existe hoje na arte brasileira. Foi uma mudança radical”.
Os artistas eram todos muito jovens na época, como ressaltou Wilson Coutinho em 1995, na
exposição comemorativa que realizou junto com Cristina Aragão no CCBB Rio: “Para avaliar o
clima da exposição é preciso conferir a certidão de nascimento de alguns participantes. Aguilar
tinha 24 anos, Angelo de Aquino 20, Gerchman 23, Vergara 24, Roberto Magalhães 25 e
Antonio Dias apenas 21. Para se ter uma ideia deste ‘boom’ de jovens basta comparar com a
Semana de Arte Moderna de 22, quando Oswald de Andrade ao participar tinha 32 anos,
Mario de Andrade 29 e Tarsila do Amaral 36”.
O título “Opinião 65” fazia uma alusão direta ao espetáculo “Opinião”, com Zé Keti, João do
Vale e Nara Leão – depois substituída pela estreante Maria Bethânia – , dirigido por Augusto
Boal, e encenado no Teatro Opinião, em Copacabana.
Em 1966, o crítico de arte Mário Pedrosa escreveu no extinto jornal “Correio da Manhã”: “Em
1965, o calor comunicativo social da mostra, sobretudo da jovem equipe brasileira, era muito
mais efetivo. Havia ali uma resultante viva de graves acontecimentos que nos tocaram a todos,
artistas e não-artistas da coletividade consumidora cultural brasileira. Personagens sociais
foram, por exemplo, elevadas à categoria de representações coletivas míticas como o General,
a Miss etc., sem falar nas puras manifestações coletivas da comunidade urbana, como o
samba, o carnaval. Antes de o ser pelo conteúdo plástico das obras (muitas delas de alto valor)
ou pelo seu estilo ou proposições técnicas, eram elas por mais diferentes que fossem
individualmente, esteticamente, identificadas pela marca muito significativa de emergirem
todos os seus autores de um meio social comum, por igual convulsionado, por igual motivado.
Daí vermos a arte altamente interiorizada de símbolos (corações, falos, sexos) e que se
distribuem, rigorosamente, num esquema formal simétrico que lembra o da arte bizantina; de
cores, (vermelhos, pretos etc.) que obedecem antes de tudo a representações litúrgicas de um
Antônio Dias, ao lado da arte essencialmente dinâmica de um Roberto Magalhães, cuja
irresistível força expressiva do desenho é assim vencida ou dominada pela extraordinária
clareza predicativa do seu esquema formal”, escreveu.
Catálogo
A exposição será acompanhada de uma bem-cuidada publicação, com 160 páginas, bilíngue
(português/inglês), formato 22cm X 27cm, texto de Frederico Morais e excertos de Ferreira
Gullar, Ceres Franco e Mario Pedrosa.
De 17 de setembro a 31 de outubro.