Dono de um dos mais completos acervos de imagens da cultura angolana, o renomado fotógrafo e publicitário Sérgio Guerra exibe um panorama minucioso de suas expedições a Angola, país africano no qual registrou os hereros, o mais antigo grupo étnico do continente. Com curadoria do artista plástico Emanoel Araujo, “Hereros – Angola”, encontra-se em cartaz no Museu Histórico Nacional, Centro, Rio de Janeiro, RJ. Visto por mais de 185 mil pessoas em São Paulo e Brasília – com passagens também por Lisboa e Luanda -, o painel apresenta 120 fotos em diversos formatos acompanhados por uma cenografia repleta de vestimentas, adereços e objetos de uso tradicional e ritualístico da etnia, traçando um amplo registro de seu modo de vida e tradições.
Fruto da paixão que o fotógrafo desenvolveu pela cultura do país africano, a exposição traz ainda depoimentos em vídeo colhidos entre homens, mulheres e jovens hereros sobre a sua cultura. O repertório de imagens e sons reunidos na mostra levam o espectador ao universo da etnia, composta por pastores de hábitos seminômades, que são exemplo da perpetuidade e resistência de uma economia e cultura ancestrais ameaçadas pelo acelerado processo de modernização e ocidentalização dos países do continente, assim como pela devastação da guerra civil que assolou o país por décadas. Através da iconografia, registros materiais e multimídia sobre o povo herero, sua tradição e seus rituais, a mostra contribui para o conhecimento da nossa ascendência africana e da formação social e etnológica de nossa gente. As lentes de Sérgio Guerra captaram com extrema sensibilidade o cotidiano e a cultura dos hereros.
Os hereros
“Nós, os hereros, nascemos todos na área chamada Calundo Candete. Saímos de lá, nos separamos e começamos a falar línguas diferentes. Hoje, cada grupo que fala uma língua diferente tomou um nome diferente, mas todos somos hereros. Escutamos nossos antepassados, os mais velhos que já se foram. Para nós, escutar é muito importante. É muito diferente de quem sabe escrever, porque a letra no papel não apaga, mas a palavra escutada depois é esquecida” (Soba Mutili Mbendula – Muhimba).
Na convivência com os hereros, o fotógrafo percebeu que os próprios angolanos sabiam muito pouco sobre essa etnia e sequer conseguiam distingui-los. “Descobri que, para além da minha atração por estes povos, poderia ser útil, de alguma maneira, se pudesse partilhar com um número maior de pessoas tudo aquilo que me foi dado a conhecer sobre eles”.
O autor
Fotógrafo, publicitário e produtor cultural, Sérgio Guerra nasceu em Recife, morou em São Paulo e no Rio de Janeiro, até se fixar na Bahia nos anos 80. A partir de 1998, passou a viver entre Salvador, Rio de janeiro e Luanda, onde desenvolve um programa de comunicação para o Governo de Angola. Em suas constantes viagens pelo Jaís, testemunha momentos decisivos da luta pela paz e reconstrução, constituindo um dos mais completos registros fotográficos das 18 províncias angolanas. Seu acervo fotográfico propiciou a publicação dos livros ‘Álbum de família’, 2000, ‘Duas ou três coisas que vi em Angola’, 2001, ‘Nação coragem’, 2003, ‘Parangolá’, 2004, ‘Lá e Cá’, 2006, ‘Salvador Negroamor’, 2007, ‘Hereros-Angola’, 2010 e e a montagem das exposições ‘As muitas faces de Angola’ – Brasília (Congresso Nacional), Salvador (Shopping Barra), São Paulo (Centro Cultural Maria Antônia), 2001; ‘Nação Coragem’ – São Paulo (FNAC Pinheiros, 2003), Zimbabwe (HIFA, Harare International Festival Arts, 2008); ‘Lá e Cá’ – realizada na Feira de São Joaquim, a maior feira livre da América Latina, tendo as bancas dos comerciantes como suporte da exposição, Salvador, 2006; ‘Salvador Negroamor’ – toda ela dedicada às pessoas que vivem na periferia da cidade, destacou-se como a maior exposição fotográfica a céu aberto que se tem registro até hoje, com aproximadamente 1500 painéis espalhados na cidade, Salvador, 2007; ‘Mwangole’ – Salvador (Galeria do Olhar, 2009); ‘Hereros-Angola’ – Luanda (Museu Nacional de História Natural), Lisboa (Perve Galeria), 2010, São Paulo (Museu Afro Brasil) e Brasília (Museu Nacional da República), 2011.
O curador
Emanoel Araújo é escultor, desenhista, gravador, cenógrafo, pintor, curador e museólogo, nascido em Santo Amaro da Purificação, Bahia. Em Salvador, formou-se em Belas Artes e foi diretor do Museu de Arte da Bahia. Lecionou artes gr.áficas, desenho, escultura e gravura na City College University of New York. Em Brasília, foi membro da Comissão dos Museus e do Conselho Federal de Política Cultural, instituídos pelo Ministério da Cultura. Em São Paulo, foi Secretário Municipal de Cultura, e Diretor da Pinacoteca do Estado, onde liderou uma gigantesca reestruturação nos anos 90, transformando o prédio em um dos principais museus do país e um dos mais conceituados internacionalmente. É considerado um extraordinário escultor e já realizou várias exposições individuais e coletivas por todo o Brasil, Europa, Estados Unidos e Japão. Recebeu diversos prêmios em todas as técnicas trabalhadas. Suas obras tridimensionais se destacam pelas grandes dimensões, pelos relevos e pela formas integrantes nas edificações urbanas. Seu estilo – mesmo sendo único – dialoga com movimentos artísticos de toda a história, mas sempre com ênfase nos detalhes que descrevem e valorizam as características africanas. Atualmente e diretor curador do Museu Afro Brasil, SP, do qual foi idealizador e doador de grande parte do acervo.
Até 08 de julho.