A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, exibe fotos do antropólogo e pesquisador Pierre Verger. A mostra contará com cerca de 120 fotografias que foram feitas entre as décadas de 1930 e 1960 nas diversas viagens que fez pelos cinco continentes, além de publicações e materiais de arquivo como documentos e provas de contato. Os quatro núcleos que organizam a exposição destacam diferentes momentos da produção do fotógrafo, sendo compostos por: fotografias encomendadas por ou vendidas para agências, livros editados pela Editora Corrupio, fotografias produzidas durante suas viagens de pesquisa pela Costa do Benin e Bahia e uma seleção de cópias assinadas que integraram a exposição “Pierre Verger, Le Messager” organizada pela Revue Noire em 1993 no Musée d’Art d’Afrique et d’Océanie.
O primeiro núcleo apresenta uma seleção do que Verger produziu para importantes agências, jornais e revistas como Alliance-Photo, Magnum, Life e O Cruzeiro, entre os anos de 1932 e 1950. Destacam-se os registros da II Guerra na China, nos quais figuram o cotidiano dos soldados e destroços silenciosos nas cidades de Xangai e Nanquin. Uma das caixas-arquivo que Verger usava para preservar e organizar pequenos envelopes com provas de contato identificadas e catalogadas, assim como outras placas de contato preparadas pelo fotógrafo também integrarão este primeiro núcleo.
O segundo núcleo é composto por livros editados pela Corrupio, editora baiana que em 1979 foi fundada a partir do interesse em divulgar e preservar a obra de Pierre Verger, dedicando-se às relações entre África e Bahia. Deste modo, foi a primeira a publicar Pierre Verger no Brasil e manteve uma relação estreita de colaboração com o fotógrafo até o fim de sua vida. Além de livros como “Orixás: os deuses iorubás na África e no Novo Mundo” de 1981 ou até mesmo o projeto original de “50 anos de fotografias“ de 1982, poderão ser vistas algumas ampliações das imagens que foram reproduzidas em seus livros.
O terceiro núcleo traz a produção de Verger de meados dos anos 1940 e início dos anos 1950, quando tratou de investigar as relações entre Bahia e África, mais especificamente os rituais e costumes das culturas e religiões afro-brasileiras e africanas em Salvador e na Costa do Benin. Foi a partir daí que tornou-se um estudioso do culto aos orixás, com uma bolsa de estudos partiu para a África onde renasceu como Fatumbi “nascido de novo graças ao Ifá” e foi iniciado como babalaô, um adivinho através do jogo do Ifá. Sua pesquisa, que resultou tanto em livros, escritos, fotografias e exposições, é tida como obra de referência para os estudos sobre a cultura diaspórica. Na década de 1990, o fotógrafo Mario Cravo Neto fez algumas ampliações dos negativos referentes ao candomblé na Bahia, essas também integrarão o conjunto deste terceiro núcleo da mostra.
O quarto e último núcleo é formado por uma seleção de cópias assinadas por Verger que fizeram parte da importante exposição “Pierre Verger, Le Messager” organizada pela Revue Noire em 1993 no Musée d’Art d’Afrique et d’Océanie. A Revue Noire foi uma das primeiras revistas a destacar a arte contemporânea africana no mercado ocidental e a exposição, apresentada na Suíça e na França, teve um importante papel para o retorno de Pierre Verger ao cenário da fotografia de seu país de origem. As imagens foram feitas entre os anos de 1930 e 1960 e apresentam cenas de rua, de trabalho, de festa e de descanso em diversos países como Peru, Bolívia, Vietnã, Estados Unidos, Japão, Cuba, Brasil e Nigéria.
As fotografias de Pierre Verger trazem o registro de manifestações espontâneas da vida humana, priorizando as minorias culturais e situações de contato sem cair em abordagens exotizantes ou pitorescas. Sua câmera Rolleiflex, carregada à altura do peito, lhe permitia aproximações menos invasivas e enquadramentos menos calculados por não se posicionar diante dos olhos. Desse modo, a câmera era mais um instrumento de apreensão de momentos de contato com o outro e a imagem gerada, a expressão de um evento ainda pouco elaborado pela consciência. Para Verger, a fotografia tinha funções estéticas, documentais, afetivas e políticas, e cumpria um importante papel enquanto discurso sobre fotógrafo e fotografado. Em suas palavras: “A fotografia permite ver o que não tivemos tempo de ver, porque ela fixa. E mais, ela memoriza, ela é memória.”
De 24 de fevereiro até 04 de abril.