Desde o seu surgimento no Oriente Médio, a escultura, com a pretensão de transferir a realidade para a forma artística, ganhou destaque no Renascimento, com o “Davi”, de Michelangelo. No século XXI, a escultura revela um desprendimento do artista, que abre mão dos materiais clássicos para a produção deste tipo de obras, como a pedra, madeira, barro, e outros materiais. Deixou-se de lado também a ênfase à questão tridimensional, elemento básico na definição da ideia clássica de escultura e de sua estrutura estática: “Hoje os artistas pensam a escultura a partir da fotografia, vídeo e performance, além dos trabalhos que partem de referências diretas à história da escultura, como Brancusi, Man Ray e Michelangelo”, afirma Fernanda Lopes, curadora da mostra “Aparições”, na Galeria Athena Contemporânea, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ. Um depoimento de Michelangelo sobre seu processo de trabalho e seu papel como artista deu nome à exposição: “Em cada bloco de mármore vejo uma estátua; vejo-a tão claramente como se estivesse na minha frente, moldada e perfeita na pose e no efeito. Tenho apenas de desbastar as paredes brutas que aprisionam a adorável aparição para revelá-la a outros olhos como os meus já a vêem”. Para Filipe Masini, à frente da galeria, a palavra aparição está ligada ao presente (de ser visto, tornar-se visível, mostrar-se), ao passado (no sentido de origem, princípio) e também como sinônimo de “fantasma, visão ou espectro”.
Partindo do título da mostra é possível pensar o conjunto de trabalhos apresentados na Galeria Athena Contemporânea, refletindo que os artistas da mostra já não lidam com a escultura nem com o mundo da mesma maneira que os mestres clássicos mas, ainda assim, seus trabalhos guardam relação com a ideia de “aparição”. Muitos partem de objetos e ações comuns do mundo, que são invisíveis em nosso dia a dia, e para os quais os artistas chamam nossa atenção.
A exposição coletiva, que tem como objetivo apresentar obras com potencial escultórico, apresenta 20 trabalhos de 12 artistas, entre eles Adriano Amaral, Ana Paula Oliveira, André Griffo, Bruno Baptistelli, Daniel de Paula, Debora Bolsoni, Flora Leite, Frederico Filippi, João Loureiro, Jorge Soledar, Raquel Versieux, e Wagner Malta Tavares.
São trabalhos entre objetos, vídeos, performances, fotografias e intervenções, produções recentes desses artistas, realizadas entre 2006 e 2014. Grande parte desses trabalhos são inéditos e alguns foram criados especialmente para esta mostra, na qual os artistas se apropriam de um tema, usando materiais do cotidiano.
De 20 de março a 19 de abril.