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AGENDA CULTURAL

Primeira individual no Rio

 

Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, apresenta a partir de 10 de novembro, a exposição “Depois que entra ninguém sai”, com obras recentes do artista Thiago Barbalho, que faz sua primeira individual no Rio de Janeiro. Até 28 de janeiro de 2023. Com curadoria de Raphael Fonseca, a mostra reúne desenhos sobre papel em grande formato e sobre tela, e ainda a escultura “Gônadas” (2022), com cerca de 2 metros de altura, feita em isopor estrutural, fibra de vidro, impressão 3D, resina cristal, pigmento e pintura automotiva. Na abertura da exposição, o artista fará uma visita guiada às 19h.

Thiago Barbalho tem despontado no cenário nacional e internacional – fez uma individual em 2018, no Kupfer Project Space, em Londres – com seus desenhos em grandes folhas de papel completamente cobertas por intrincadas formas, feitas com lápis de cor, grafite, pastel, caneta esferográfica, marcador permanente, acrílica, tinta óleo, bastão oleoso, spray e resina. A trama de suas histórias é composta pelo olhar do público. No final do ano passado a Pinacoteca do Estado de São Paulo adquiriu uma obra sua, e também no circuito internacional o artista tem sido reconhecido: ele foi o único artista brasileiro a integrar o compêndio de desenho contemporâneo “Vitamin D3 – Today Best in Contemporary Drawing” (Phaidon, 2021), um conceituado indicador das futuras estrelas da arte.

“Depois que entra ninguém sai” mostra o resultado da pesquisa desenvolvida por Thiago Barbalho nos últimos dois anos, em que dá prosseguimento ao seu interesse pelas relações entre desenho, pintura e cor, em trabalhos que se caracterizam pelo horror vacuum – horror ao vazio – conceito que atravessa a história da humanidade, percorrendo filosofia, arte, religião e até psicanálise. Thiago Barbalho nos convida a contemplar imagens cheias de detalhes. “Sobre as superfícies de diferentes folhas de papel, ele cria aglutinações de situações, figuras, manchas e traços que se acoplam umas às outras. Vistas de longe, essas imagens se destacam pela presença vibrante da cor, ao passo que, vistas de perto, são como uma trama onde prazer, humor, violência e nonsense se irmanam na justaposição de imagens ricas em possíveis interpretações”, escreve o curador Raphael Fonseca no texto que acompanha a mostra.

 

Desenhos sobre tela

Esse período mais recente da produção de Thiago Barbalho é marcado pela sua mudança de São Paulo – cidade em que viveu por uma década após deixar Natal, em 2010 – para o interior do estado, onde está em maior contato com a natureza. É nesse momento que surgem os desenhos em tela que compõem a exposição. Apesar do suporte, esses trabalhos não são pinturas. Thiago Barbalho segue utilizando os mesmos materiais empregados nas obras sobre papel, por vezes acrescentando à tela tecido tingido com pigmento natural. Significativamente menores do que estes últimos, os trabalhos sobre tela mantêm a noção de intimidade do gesto de desenhar.

Ainda sobre este conjunto de desenhos, Raphael Fonseca afirma: “Vemos figuras individuais que, por meio de formas orgânicas e um expressivo uso da cor, se apresentam como retratos ou estudos anatômicos de seres fantásticos. Como em toda a sua pesquisa, os limites fictícios entre figuração e abstração, representação e exploração formal se bagunçam e se plasmam em uma coisa só”.

 

Escultura

“Gônadas”, uma escultura inédita coberta por desenhos, é um desdobramento de “Leite derramado”, obra que o artista expôs em “Rocambole”, exposição coletiva em que suas obras estavam em diálogo com as das artistas Yuli Yamagata e Flora Rebollo, e que foi apresentada em duas ocasiões: em São Paulo, em 2018, e em Lisboa, em 2019. Nesta escultura, Thiago Barbalho experimenta as possibilidades de construção sobre um espaço tridimensional cuja topografia é oposta àquela da planaridade do papel.

A exposição “Depois que entra ninguém sai” é um convite ao público para entrar em contato com o universo visual de Thiago Barbalho. Para Raphael Fonseca, o próprio título da mostra é uma metáfora não apenas do processo de criação do artista, mas também para sua recepção. “Depois que o artista insere algumas formas sobre a amálgama de elementos de suas composições, lá estão elas se relacionando com outros elementos e abertas para o deleite de nossos olhos. De forma semelhante, depois que nosso olhar e corpo adentram o universo proposto por Thiago Barbalho, fica difícil nos esquecermos dele.”

 

Sobre o artista

Thiago Barbalho nasceu em 1984, em Natal, e vive e trabalha em São Roque, São Paulo. Escritor e artista visual, Thiago Barbalho encontrou no desenho um modo de expressão que suplantou uma crise com a palavra. Trabalhando em diferentes dimensões e com diversos materiais – lápis de cor, grafite, spray, óleo, pastel oleoso e marcador sobre papel – suas composições trazem aos olhos do público universos intrincados, em que formas e cores se entrelaçam e embaralham em narrativas psicodélicas capazes de abolir a relação entre figura e fundo. Thiago Barbalho entende o desenho como uma tecnologia ancestral, que atravessa eras e culturas. Sua pesquisa visual vê no desenho o rastro de uma presença e da relação entre a mente – a imaginação -, e o corpo – o gesto -, entre a consciência e a realidade.

Para a crítica e curadora Kiki Mazzuccheli: “Ao trabalhar essencialmente com desenho, Barbalho produz composições extremamente intricadas, porém não planejadas, nas quais uma multiplicidade de imagens, símbolos e campos de cor se fundem umas nas outras para criar superfícies vibrantes ininterruptas”. O aparente caos de suas imagens surge do vagar do gesto que traceja, recusando a submeter-se às lógicas formais ditadas pela racionalidade. De fato, deparamo-nos em seu trabalho com fragmentos diversos, uma profusão de referências de diferentes esferas, conjugando cultura popular nordestina, personagens de desenhos animados, assim como signos e símbolos advindos do universo do comércio e da cultura de massa. Somadas às leituras e pesquisas de Barbalho no campo da filosofia, da antropologia e da mística a partir de seu interesse pelas relações entre matéria e pensamento, seus desenhos instauram um universo visual cuja maior constante é a própria revolução. Dentre suas principais exposições individuais destacam-se: “Correspondência” (2019), na Galeria Marília Razuk, em São Paulo; e “Thiago Barbalho” (2018), no Kupfer Project Space em Londres. Suas principais coletivas recentes incluem: “Electric Dreams” (2021), na Nara Roesler Rio de Janeiro; “AVAF” (2018), na Casa Triângulo, em São Paulo; “Rocambole” (2018), no Pivô, em São Paulo, e na Kunsthalle Lissabon (2019), em Lisboa; “Voyage” (2017), na Galeria Bergamin; Gomide São Paulo; Shadows & Monsters (2017), no Gasworks, em Londres. Suas obras integram coleções como a da Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil.

 

Sobre Nara Roesler

Nara Roesler é uma das principais galerias brasileiras de arte contemporânea, representando artistas brasileiros e internacionais fundamentais, que iniciaram suas carreiras na década de 1950, bem como artistas consolidados e emergentes cujas produções dialogam com as correntes apresentadas por essas figuras históricas. Fundada por Nara Roesler em 1989, a galeria tem consistentemente fomentado a prática curatorial, sem deixar de lado a mais elevada qualidade da produção artística apresentada. Isso tem sido ativamente colocado em prática por meio de um programa de exposições criterioso, criado em estreita colaboração com seus artistas; a implantação e estímulo do Roesler Curatorial Project, plataforma de iniciativas curatoriais; assim como o contínuo apoio aos artistas em mostras para além dos espaços da galeria, trabalhando com instituições e curadores. Em 2012, a galeria ampliou sua sede em São Paulo; em 2014 expandiu para o Rio de Janeiro e, em 2015, inaugurou um espaço em Nova York, dando continuidade à sua missão de oferecer a melhor plataforma para seus artistas apresentarem seus trabalhos.

 

 

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