Após dois anos trancados no “bunker”, o Exército Monarca, de Fábio Carvalho, volta a levantar vôo. Será no Memorial Municipal Getúlio Vargas, Glória, Rio de Janeiro, RJ, a partir de 07 de maio, com a reabertura da instalação “Parada II” e permanência em cartaz até 19 de junho.
“Parada II”, de Fábio Carvalho, é uma instalação com mais de 750 bandeirinhas de papel de seda com impressão de soldados portando fuzil, com asas de borboleta saindo das costas, que ocupará a área de exposições temporárias do Salão Principal do Memorial Municipal Getúlio Vargas, com curadoria de Shannon Botelho. A impressão das bandeirinhas foi feita uma a uma, com o uso de carimbos de borracha produzidos à mão pelo próprio artista, a partir de um desenho original de sua autoria.
O uso da imagem da borboleta monarca (Danaus plexippus) em vários dos trabalhos do artista vai muito além do fato de borboletas serem normalmente associadas ao universo feminino, frágil e delicado, que em oposição aos símbolos usualmente aceitos como masculinos, de força e virilidade, como os militares, formam a principal dialética da sua produção artística, que procura levantar uma discussão sobre estereótipos de gênero, e questionar o senso comum de que força e fragilidade, virilidade e poesia, masculinidade e vulnerabilidade não podem coexistir. Seu uso surge ainda como um contraponto à camuflagem dos uniformes militares. As borboletas monarca são tóxicas, e por isso evitadas pelos predadores. Há outras espécies de borboletas não venenosas que mimetizam o padrão exuberante da monarca, que assim são igualmente evitadas pelos predadores. Camuflagem e mimetismo são estratégias opostas de sobrevivência e proteção, que objetivam confundir e enganar, ao se fingir ser algo que não se é.
As linhas de bandeirinhas são dispostas perpendicularmente às duas paredes, em sequência ordenada, começando do alto, descendo suavemente a cada nova fileira, até ficarem na altura do chão ao final do corredor da galeria. Desta forma, até um certo ponto se poderá entrar na instalação, até que a massa de bandeirinhas impeça o espectador de seguir.
“Parada” é sobre ordem, a imposição de uma certa ordem, que padroniza, anula diferenças, ignora a diversidade, dita um ritmo, uma regra arbitrária de ocupação dos espaços, cartesiana, regular, mas que apesar de todo o esforço de padronização, de robotização dos corpos e mentes, a menor e mais singela interferência (a entrada do público na exposição) já desestabiliza esta ordem rígida e monótona, insere movimento, poesia, beleza (através do movimento de ar gerado pelo deslocamento das pessoas no interior da instalação).
Pela primeira vez, desde que os “Monarcas” surgiram em 2014, há algumas bandeirinhas vazias, em branco, em meio aos soldados alados. Seu significado, entretanto, o artista faz questão de manter em segredo – “eu acho muito mais interessante e rico que cada pessoa tente elaborar por si mesma o que seriam estes vazios, estas ausências”, afirmou Fábio Carvalho. Outro detalhe, mais sutil, é que de imediato vemos essa ordem/rigor, mas se olharmos de perto, de dentro, é uma aparência, uma fachada (precária); há defeitos, emendas, rasgos, amassados; a vida real, suja, orgânica, entrópica, sempre se impõem à ordem rígida e artifical, arbitrária, que para ser preservada exige trabalho, esforço, reforço, força (violência).
A exposição “Parada II” foi originalmente inaugurada em 14/02/2020. Por causa da pandemia de Covid19, iniciada em março daquele ano, ela foi fechada pouco tempo depois, e permaneceu fechada até agora. Apesar da fragilidade material da obra, ela permaneceu praticamente intacta nestes 27 meses de “reclusão”.
Sobre o artista
Fábio Carvalho, encontra-se em atividade desde 1994, apresentando em em seu curriculum 17 exposições individuais e mais de 150 coletivas, no Brasil e exterior. Integrou importantes projetos de mapeamento da produção emergente no Brasil nos anos 1990, e fez exposições por quase todo o território nacional. Já integrou mostras na Alemanha, Argentina, Cuba, Espanha, Equador, EUA, Inglaterra, Itália, Portugal, República Checa, entre outros. Participou de 7 Residências Artísticas em Portugal e 4 no Brasil.