O pintor Fernando Leite descobriu a fotografia como “campo de atuação”, ao trabalhar com photoshop para editar reproduções para livros de arte na sua também atividade de designer gráfico. A constatação levou-o a colecionar imagens, fotografadas por ele ou não, que se tornaram e se tornarão pinturas a óleo, como os 12 trabalhos inéditos que apresenta na individual “VER TE”, a partir de 16 de agosto na Marcia Barrozo do Amaral Galeria de Arte, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ. São telas a óleo de recortes de paisagens, detalhes de florestas e jardins, datadas de 2015 a 2018, que têm em comum a origem fotográfica. O conjunto de pinturas maiores (160x130cm), intitulado “Jardins”, tem base em fotografias clicadas pelo artista, assim como “Parques” e flores – cada uma tem um título e as pinturas batizadas “Igapós” têm matriz na série de mesmo nome do fotógrafo francês Marcel Gautherot, feita na Amazônia nos anos 1950 e pertencente ao acervo do Instituto Moreira Salles.
Origem
Fernando Leite conta: “Em 2007 comecei a fotografar para atender algumas demandas do meu trabalho em design gráfico. A fotografia digital mudou minha relação com imagem fotográfica. A edição em photoshop, que comecei a realizar para os livros de arte, me apresentou a fotografia como um campo de interferência, em que eu poderia editar, manipular, fazer cortes, mudar perspectivas, alterar cores, enfim, um vasto campo de construção visual.”
Nas telas desta mostra, a fotografia orienta a estruturação da pintura. Não se trata de fazer uma pintura fotográfica, um “engana-olho”, uma imitação, mas de fazer uma pintura com suas especificidades, que conversa a fotografia, que conversa com a história, que conversa com a natureza. A estruturação da imagem na pintura vem de uma linguagem de construção pela mancha que é específica do fazer pictórico, das matérias e dos materiais e da caligrafia|gestualidade do pintor.
Paisagem e ponto de vista
A tradição da paisagem subentende um observador que vê o mundo sob um ponto de vista, de um lugar, separado do espaço apresentado. Isso se aplica à pintura e também à fotografia: o fotógrafo está aqui, o objeto está lá.
Qual é o ponto de vista do artista ao fotografar a cena para fazer as pinturas? No conjunto “Jardins”, o observador|fotógrafo|pintor está fora e, portanto, ele escolhe um recorte da grande paisagem que é uma floresta. Já as pinturas de “Parques” têm como fonte fotos feitas em um dia nublado em um parque nacional em que observador|fotógrafo|pintor estava dentro da floresta que estava dentro da nuvem, como esteve Gautherot em seu barco dentro da floresta amazônica quando fotografou os igapós.
Fernando Leite explica que aprendeu com as fotos de Gautherot a diferença entre o observador dentro da cena, em meio à cena. O barco do fotógrafo francês estava dentro da floresta. Portanto “não há ponto de vista. Naquele momento, ele é parte do todo, um organismo dentro de outro organismo”, descreve.
Embora não tenha transitado entre os igapós amazônicos, o pintor viu no conjunto de fotos de Gautherot um força pictória impressionante e uma correlação com a pintura que estava fazendo na época. Todas as fotos do francês pareciam pinturas.
Sobre o artista
Fernando Leite é paulista, radicado no Rio de Janeiro desde os 18 anos, quando começou a estudar pintura e desenho no MAM e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Como bolsista da Pollock-Krasner Foundation, em Nova York, entre 1999-2000, cursou Graphic Design na Parsons New School of Design, e Silkscreen Studio, na School of Visual Arts. Frequentou a oficina de gravura da Mason Gross School of the Arts – Rutgers University (New Brunswicck, Nova Jersey), sob orientação de Lynne Allen. A bolsa Pollock veio depois de o artista ter se graduado em pintura pela Escola de Belas Artes da UFRJ. Desde 2008, é diretor de arte da Verbo Arte Design, onde trabalha em colaboração com artistas e curadores na produção de livros, catálogos e exposições de arte contemporânea em diversas instituições. É professor-orientador em programação visual da Escola sem sítio, no curso Imersões curatoriais. Leite fez exposições individuais no Centro Cultural São Paulo, São Paulo, 2000, no Centro Cultural Cândido Mendes, Rio de Janeiro, 1995, Galeria Centro Empresarial Rio, Rio de Janeiro, 1990 e Galeria Macunaíma, Funarte, Rio de Janeiro, 1987. O artista participou de várias exposições coletivas, entre elas, Novos Novos, Centro Empresarial Rio, Rio de Janeiro, 1987; Salão Carioca de Artes Plásticas, 1985 e 1988; Salão Paulista de Arte Contemporânea, 1989; Doze Caminhos, Galeria Montesanti-Roesler, Rio de Janeiro, 1990; Sechs Aus Rio, Maerz Gallery, Linz, Áustria, 1993; Suporte, Galeria Vilaseca, 2007, e Verdadeira Grandeza, Ateliê da Imagem, 2008.
Em cartaz de 16 de agosto a 11 de outubro.