A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, apresenta no atrio e em seu 3º andar, a exposição “Ione Saldanha: o tempo e a cor”, retrospectiva da artista que, “situando-se no limiar entre o moderno e o contemporâneo, encontrou sobretudo na cor o lirismo de sua expressão artística”. Com este caráter panorâmico sobre a produção da artista, a exposição apresenta desde suas figuras e fachadas dos anos 1940 e 1950 até o amadurecimento do uso da cor em sua obra, passando pelas aproximações construtivas que inspiraram seu trabalho. “Ione Saldanha: o tempo e a cor” apresenta obras em suportes tradicionais e experimentais, lançando um olhar amplo sobre trajetória da artista. As décadas de 1960 e 1980 ganham foco por tratarem-se de períodos em que a produção de Ione atingiu uma poética madura e particular, materializada pelo uso sensível da cor. A curadoria é de Luiz Camillo Osório.
Nascida em Alegrete, no Rio Grande do Sul, em 1919, Ione ainda criança viu a família envolvida no movimento de 1923, que marcou a história do estado pelo conflito entre chimangos e maragatos. Devido às ligações políticas, o pai da artista integrou o governo de Getúlio Vargas em 1930, o que determinou a ida da famíçia para o Rio de Janeiro – cidade onde Ione Saldanha residiu até seu falecimento, em 2001. O flerte com a arte se deu desde cedo, através dos primeiros estudos com Pedro Corrêa de Araújo e das viagens a Florença e Paris para realizar cursos de afresco. Durante os anos 1950 e 1960, participou de exposições em diversas cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Santiago do Chile, Roma, Berna e Houston. No início de sua trajetória, as obras são marcadas por um figurativismo de cores escuras que aos poucos deram lugar à geometria lírica, conferindo também outro ritmo cromático para as pinturas. O protagonismo da cor, do pigmento, vai assumindo diferentes faces no decorrer do desenvolvimento da poética da artista.
Foi no ano de 1968 que ela expôs pela primeira vez os característicos bambus e ripas pintadas. A partir do uso de suportes experimentais, Ione incorporou algumas das características da contemporaneidade para dentro de sua produção, sem distanciar-se de certo caráter formal do concretismo e do uso da cor. Transitou, assim, entre o moderno e o contemporâneo, como bem observou o curador Luiz Camillo Osório.
Texto do curador Luiz Camillo Osório:
A obra da artista Ione Saldanha segue ainda desconhecida do grande público e à margem da história da arte brasileira recente. Nascida em Alegrete no Rio Grande do Sul, mas tendo vivido grande parte de sua vida no Rio de Janeiro, teve sua formação marcada pela sensibilidade cromática de Volpi e pela desconstrução figurativa de Vieira da Silva. Passados dez anos de sua morte, está na hora de rever seu percurso artístico.
A exposição, tendo caráter retrospectivo, procurará realizar um recorte panorâmico em sua trajetória, desde suas figuras e fachadas das décadas de 1940 e 1950, desdobrando-se pelo flerte construtivo no começo da década seguinte, até sua grande aventura de liberação da cor do final dos anos 1960 até a década de 1990.
Sua obra consegue combinar o rigor formal da tradição concreta com a experimentação constante de novos materiais e suportes, sem abrir mão, entretanto, da dimensão lírica da cor. Trata-se, portanto, de uma artista que viveu de dentro a passagem do período moderno para o contemporâneo.
Apesar da concentração nas décadas de 1960 e 1980, quando sua obra atinge maturidade poética, procuraremos nesta exposição traçar o seu desenvolvimento desde a década de 1940, mostrando seu período formativo e a longa maturação de sua sensibilidade para a cor. Combinando desenhos, estudos, pinturas e a experimentação com os mais variados suportes – ripas, bambus, bobinas e empilhados. Sua obra está presente nas principais instituições e coleções brasileiras, predominantemente no Rio de Janeiro e em São Paulo.
De 14 de junho 12 de agosto.