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AGENDA CULTURAL

Retrospectiva de Vera Chaves Barcellos

 

A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, inaugura no dia 06 de maio a exposição “O estranho desaparecimento de Vera Chaves Barcellos”. A curadoria é de Raphael Fonseca.

No calendário de 2023, a artista é um dos grandes destaques da programação, e, também, a terceira mulher a ocupar mais de um andar da Fundação Iberê Camargo, depois de Regina Silveira (Mil e um dias e outros enigmas/2011) e Maria Lídia Magliani (Magliani/2022).

A exposição “O estranho desaparecimento de Vera Chaves Barcellos”, que até o dia 30 de julho ocupará três andares do centro cultural apresenta 59 obras, abrangendo trabalhos desde a década de 1960 – realizados a partir da experimentação com pintura e desenho, e, num segundo momento, com a xilogravura – até obras mais recentes, destacando seu longo diálogo com a Fotografia. A retrospectiva traz, ainda, livros de artista e vídeos.

A pesquisa de Vera Chaves Barcellos, 85 anos, tem como ponto de partida a relação entre o corpo e o tempo: interpretando personagens e narrativas do passado e do futuro, focando em histórias que ficaram de fora da historiografia, documentando e coletando materiais de arquivo de eventos locais ou da memória pessoal. A fotografia foi uma forma de trazer Vera Chaves Barcellos de volta ao real, um olho mais objetivo para olhar o mundo ao seu redor.

A artista já participou de diversas mostras individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Possui obras em museus como MAM, São Paulo, MAR, Rio de Janeiro, Museo Reina Sofia, Madrid, e MACBA, Barcelona, e em coleções privadas nacionais e internacionais. Destaca-se também sua atuação cultural no meio artístico brasileiro. Na década de 1970, foi uma das fundadoras e integrantes do grupo Nervo Óptico (1976-1978), coletivo de artistas voltados ao debate e à produção de arte contemporânea. Além de seguir trabalhando como artista visual, ela realiza curadoria de exposições e atua como gestora da fundação que leva seu nome, localizada em Viamão, RS.

Para o curador Raphael Fonseca, a exposição é uma celebração à Vera Chaves Barcellos, uma “criadora de imagens”. “É importante observar o conjunto de obras desta exposição e refletir sobre alguns temas recorrentes ao seu campo semântico. O corpo humano – e seu interesse, como aqui dito, em fragmentá-lo – aparece recorrentemente em suas imagens; ele é pele, é enquadramento de retrato fotográfico, são as costas de um grupo de pessoas, são os Manequins de Düsseldorf. Este é um aspecto importante e talvez pouco comentado sobre a artista: seu interesse pelas imagens de grupos de pessoas e pela noção de massa. Isso se faz presente tanto pela literalidade com que os corpos surgem em suas obras, quanto pelas séries mais interessadas nas imagens de grandes cidades visivelmente afetadas pela ação humana”.

Aos 35 anos, Raphael Fonseca é Doutor em Crítica e História da Arte pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisador nas áreas de História da Arte, crítica e educação, além de curador de arte latino-americana moderna e contemporânea no Denver Art Museum (EUA). Ele conheceu Vera Chaves Barcellos em 2017, durante a exposição da artista no Paço Imperial (RJ). Raphael escreveu sobre a mostra para a revista colombiana ArtNexus e, neste mesmo ano, incluiu dois trabalhos da artista, “Habitat” e “Pequena Estória de um Sorriso” (1975), na exposição “Mais do que araras”, no SESC Palladium (BH), em comemoração aos 50 anos da icônica obra “Tropicália”, de Hélio Oiticica, onde as obras de Vera Chaves Barcellos ali expostas abordavam aspectos da realidade brasileira, que, da época de sua produção até agora, pouco se alterou e até mesmo se agravou.

“O título desta mostra se apropria, com certa liberdade poética, do nome de um trabalho da artista datado de 1976: O estranho des-aparecimento de VCB. Naquele contexto histórico – o da ditadura militar no Brasil – essa frase poderia ser lida tanto como uma amarga memória às pessoas que desapareceram devido à violência estatal, quanto uma provocação em referência àqueles que tiveram de, momentaneamente, desaparecer do cenário brasileiro por perseguição política. (…) Por enquanto podemos rir do seu desaparecimento; ao mesmo tempo, melancolicamente, sabemos que um dia ele, assim como o de todos nós, chegará. (…) Enquanto tivermos sua obra e pesquisa perante os nossos olhos, VCB, felizmente, nunca desaparecerá”, afirma o curador.

 

Sobre a artista

Nascida em 1938, em Porto Alegre, Vera Chaves Barcelos formou-se em Música no Instituto de Belas Artes, em 1958. Nos anos 1960, estudou gravura e pintura na França, Holanda e Inglaterra, e viajou por vários países europeus, visitando museus e tendo contato com arte moderna e contemporânea. Nos anos seguintes, iniciou sua participação em salões nacionais e exposições internacionais de gravura. A partir de 1973, passou a utilizar a fotografia em sua obra. Dois anos depois, ganhou uma bolsa no Croydon College, em Londres, onde aperfeiçoou seus estudos em fotografia e técnicas gráficas. Em 1976, participou da 37ª Bienal de Veneza e, em 1977, da XIV Bienal de São Paulo com a série “Testarte”, ano em que integra o Nervo Óptico. Em 1979, com um grupo de outros artistas, criou o Espaço N.O., em Porto Alegre, dedicado a atividades artísticas e culturais multidisciplinares, ativo até o ano de 1982. Nos anos 1980, a artista realizou exposições individuais no Museo de Arte de Medellín, na Colômbia, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e no Paço das Artes, em São Paulo. Participou da I Bienal de Havana em 1984, ano em que expõe no Projeto ABC-Funarte, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP). A partir de 1986 passou a viver em Barcelona, dividindo sua atuação profissional entre Brasil e Espanha. No ano seguinte, mostrou “Cadernos para colorir I” na Galeria Art Ginesta, Castelldefels, Barcelona. Nos anos 1990, expõs individualmente na Galeria Artual, Barcelona: “Ornaments i altres coses” (1990), “Dones de la Vida” (1992), e “Enigmas” (1996). Em 1999, com Carlos Pasquetti, Patricio Farías e Nick Rands, fundou a galeria de arte contemporânea Obra Aberta, em Porto Alegre. No mesmo ano realizou a exposição individual “El cuerpo, la cultura, lo feminino y la memoria: juego y significado en la obra de Vera Chaves Barcellos”, nas Sales Municipals d’Exposició, em Girona. No Museu de Arte da mesma cidade apresentou, no ano 2000, a instalação “Visitant Genet”, exposta também na mostra “Sem Fronteiras”, que inaugurou o Santander Cultural, em Porto Alegre, em 2001. Em 2007 e 2009 realizou duas exposições panorâmicas, respectivamente, no Santander Cultural, em Porto Alegre, e no MASP, e, em 2010, “Per Gli Ucelli”, um site specific para o Projeto Octógono da Pinacoteca de São Paulo. Possui obras no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, MAC de Curitiba, Museu de Arte Moderna e na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, e em coleções privadas no Brasil e no exterior. Seu currículo conta com participação em quatro Bienais de São Paulo e mostras na América Latina, Alemanha, Bélgica, Coréia, Espanha, França, Holanda, Inglaterra e Japão. Em 2017, participou da mostra “Radical Women: Latin American Art 1960-1985”, no Hammer Museum, EUA, e no Brooklyn Museum, Nova York. Em 2020, o Museu Reina Sofia, de Madri, adquiriu obras da série “Epidermic Scapes” (1977) e a obra “Combinável I” (1969).

 

Até 30 de julho.

A Fundação Iberê tem o patrocínio do Grupo Gerdau, Grupo GPS, Itaú, Grupo Savar, Renner Coatings, Grupo IESA, CMPC, Perto, Ventos do Sul, DLL Group e da Renner, Dell Technologies, Hilton Hotéis, Laghetto Hotéis, Coasa Auditoria, Syscom e Isend, com realização da Petrobras e Ministério da Cultura/ Governo Federal.

 

 

 

 

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