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AGENDA CULTURAL

Roberto Alban apresenta Adrianne Gallinari

 

 

A Roberto Alban Galeria, Ondina, Salvador, Bahia, anuncia a exposição “Adrianne Gallinari: desenho+pintura”, primeira exposição individual da artista na galeria, com abertura no dia 24 de março. Natural de Belo Horizonte, MG, Adrianne Gallinari vive e trabalha entre Salvador, São Paulo e a capital mineira. Em “desenho+pintura”, a artista apresenta um conjunto de vinte e oito pinturas, em diferentes formatos, e um desenho em grande escala, realizado em 2018 e exibido recentemente em São Paulo na Casa de Cultura do Parque. 

Formada pela renomada Escola Guignard, na capital mineira, Gallinari é expoente de uma geração cuja aparição no circuito da arte contemporânea aconteceu ainda na década de 1980, incluindo nomes como os de Cao Guimarães, Rivane Neuenschwander, Rosangela Rennó, Alexandre da Cunha e outros. A artista integra importantes coleções institucionais como a do Itaú Cultural (São Paulo), Coleção Madeira Corporate Service (Ilha da Madeira, Portugal), Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte, Minas Gerais) e Banco de Espanha (Madrid, Espanha).

Ao longo de sua trajetória, teve importantes exposições individuais em espaços como o The Drawing Center, em Nova York e participou de prestigiadas mostras como a Bienal de Pontevedra, com curadoria de Maria de Corral, além de exposições coletivas como Ordenação e Vertigem (curadoria de Agnaldo Farias, CCBB-SP), Desenhos A-Z (curadoria de Adriano Pedrosa) e a exposição paralela à Bienal de São Paulo de 2008 (curadoria de Rodrigo Moura).

Adrianne Gallinari também foi contemplada com prêmios como “Aquisição”, no XXII Salão Nacional de Arte, no Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1991); “Programa de Bolsas para Artistas Jovens Guillermo Kuitca” (Buenos Aires, Argentina, 1997); e “Primeiro Prêmio” na I Bienal Bridgestone Centro Cultural Borges (Buenos Aires, Argentina, 2000).         

Tal como o título da presente exposição, a prática da artista mineira debruça-se, majoritariamente, sobre o desenho e a pintura, explorando as potencialidades e interseções destes suportes artísticos. Ainda em seus anos de formação, Adrianne Gallinari encontrou no desenho a porta de entrada para o aprofundamento de sua obra, através de uma rigorosa e intensiva prática em diferentes suportes, como o papel, tecidos e o próprio espaço arquitetônico.

Foi da extensa prática no campo do desenho que, ainda no início de sua produção, Adrianne Gallinari migra para a pintura, transitando até hoje entre os dois meios com uma singular desenvoltura e apuro técnico. Obra de 2018, o grande desenho presente na exposição consiste em um enorme tecido estendido na parede do espaço expositivo, sobre o qual a artista traceja – numa espécie de ordenamento obsessivo e delicado – pequenos traços em crayon. Ainda que pensado em uma grande escala, o painel revela as minuciosas intenções gráficas da artista, em que as leituras sistematicamente formadas parecem desvelar as próprias imperfeições da parede que a obra esconde. A percepção visual criada, assim, é a de um trabalho laborioso e repetitivo, que investiga a organização do espaço da obra tal como se a artista estivesse esboçando um mapa mental.

Não por coincidência, as ranhuras se assemelham a uma escrita “rasurada” – dos pensamentos que não conseguem se traduzir apenas no plano do papel. E é neste intervalo das rasuras onde surgem formas abstratas, geométricas e visivelmente distintas, tal como atos falhos que se apresentam com mais lucidez do que aquilo que teria sido dito – escrito ou desenhado – conscientemente. Nas palavras do curador Agnaldo Farias, no texto curatorial que acompanha a mostra, “Na obra da artista, o desenho é o seu ponto de partida. Sempre. Mesmo estando circundado por pinturas dotadas de cores suaves e iluminadas, paisagens embaciadas por névoas, ou acesas, recém despertas pelo sol da manhã ou, ainda, resistindo à despedida da luz, quando da chegada da noite, mesmo assim, o desenho fala mais alto, até porque, nessas pinturas, ele também é protagonista.”

Já em suas pinturas, realizadas desde pequenas escalas até formatos médios e grandes, a artista explora diferentes noções e nuances da ideia de paisagem. Temática amplamente explorada ao longo da história da arte, a pintura de paisagem aparece na obra de Gallinari dotada de um léxico que remete, ao mesmo tempo, à tradição destes tipo de pintura quanto a uma radical contemporaneidade.

Suas paisagens situam-se em um campo híbrido entre a figuração e a abstração, através do uso da tinta acrílica e de pinceladas que ora nos revelam montanhas, traços de vegetação e outros elementos típicos do gênero. Os espaçamentos em branco de suas telas valorizam suas escolhas cromáticas, que vem a compor as delicadas figuras e paisagens que pinta, criando uma sensação harmônica entre áreas de respiro e áreas de intenso trabalho sobre a tela.

A artista cria assim um certo sentido de uma totalidade visual, em que toda a superfície da tela compõe este conjunto híbrido entre abstração e figuração: uma justaposição entre planos distintos ao mesmo passo de uma ampla perspectiva unitária entre estes diferentes elementos.

Suas paisagens – frutos da vivência e da memória destes espaços, ao longo de sua vida – revelam a aparição de ramos, árvores, campos e montanhas que dividem o espaço visual com delicadas figuras humanas, gerando um pertencimento entre homem e natureza,  através de um jogo entre aparição e desaparecimento, pintura e também subtração do plano pictórico. Tal aproximação também é realizada a partir do uso de desenhos geométricos semelhantes, permitindo uma potente convergência poética entre todos os elementos que habitam suas pinturas – a um só tempo impactantes e delicadamente articuladas.

A mostra continua até o dia 30 de abril.

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