A Galeria Lume, Itaim Bibi, São Paulo, SP, abre a exposição Sans Tache (Sem Marcas), do fotógrafo Gabriel Wickbold e curadoria de Diógenes Moura. A série inédita com 15 fotografias questiona o Homem e sua relação com o envelhecimento, com o intuito de criticar a estética “super manipulada” ditada pela mídia em fotografias que não transmitem a real aparência dos personagens.
Inspirado na luz lateral e sombria de Caravaggio e na arte barroca renascentista, Gabriel Wickbold fotografa diversas pessoas que “emprestam” seus corpos para este ensaio, cujo resultado nos deixa com a sensação de estarem embalsamados, submersos ou, em outros momentos em estado de levitação. Livres de toda e qualquer marca ou mancha em suas peles, por meio de tratamento de imagem, as fotografias são impressas e submetidas à “grilagem”. A partir de então, os excrementos e movimentos frenéticos dos insetos passam a agir nos retratos, dando uma aparência de papel envelhecido e revelando a questão corpo/tempo/marcas. Cada foto recebe essa ação à sua maneira, assim como na vida o tempo age de forma distinta para cada um. Em algumas imagens, o corpo se apresenta como em posição fetal, sem formas claras. Em outro momento, em pé, quase como um espelho em tamanho real. Um casal, como Adão e Eva, mostrando que o tempo passou até para quem foi o início da “criação divina”. Em outra fotografia, o menino de cabelo ruivo parece Peter Pan em vôo livre – como na “Terra do Nunca”, onde não se envelhece jamais.
Os novos trabalhos de Gabriel Wickbold criticam a estética artificial e distorcida em relação aos corpos exibidos em revistas ou pela Internet que não apresentam manchas ou rugas, como se envelhecer fosse feio, como se fosse errado ou negativo ter os sinais da passagem do tempo impressos na pele das pessoas retratadas. Sobre o questionamento, Diógenes Moura comenta: “Todos nós queremos ser belos, adorados, inesquecíveis, material de consumo. Gabriel Wickbold pensou uma série para entregá-la à passagem do tempo. Sugere, como resultado final para “corpos perfeitos” o destino que só o tempo será capaz de desvendar. Possibilita que sua fotografia corroída invente um outro corpo – dessa vez nada renascentista – diante do espelho/simulacro que enfrentamos diariamente em nossa fragilidade cotidiana”.
Nesta série, a intervenção dos grilos se dá ao comerem o papel onde a imagem de um corpo, em tamanho real, aparece de forma sutil. Metaforicamente, o corpo nada mais é do que o homem sendo comido pelo bicho. O fim que todos nós teremos. “Sans Tache trata da relação humana com as marcas das quais nós mesmos queremos fugir, ao invés de acreditar que elas são parte do nosso aprendizado e da forma mais pura do homem, que é ser feito de carne e osso (…)”, nas palavras do fotógrafo.
De 14 de agosto a 20 de setembro.