A galeria Luciana Caravello Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, completou sete anos. Para comemorar, apresenta uma exposição com obras de seu acervo ocupando os três andares da galeria. A mostra exibe pinturas, esculturas, desenhos e serigrafias dos artistas Afonso Tostes, Alexandre Mazza, Ana Linnemann, Bruno Miguel, Daniel Lannes, Eduardo Kac, Eliane Prolik, Fernando Lindote, Gê Orthof, Gisele Camargo, Igor Vidor, Ivan Grilo, João Louro, Lucas Simões, Luiz Hermano, Marcelo Solá, Nazareno, Pedro Varela e Ricardo Villa.
Dentre os trabalhos em exposição, a obra “Brasileiro #1”, de 2017, do artista paulistano Ricardo Villa, que mistura – em uma trama -, as bandeiras do Brasil e do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. O artista multimídia procura demonstrar em seus trabalhos como ideologias dominantes determinam nossa compreensão histórica do conhecimento e do mundo como natureza.
Outra obra em exposição, “Tênis Clube 6”, de 2017, traz a assinatura do artista paulistano radicado no Rio de Janeiro Igor Vidor. O trabalho é composto por 42 bolas de tênis usadas por três jovens – Maylon, Lucas e Raphael – que trabalham aos sábados, fazendo malabares em sinais de transito, na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. Igor Vidor passou a trocar as bolas usadas pelos garotos por novas. Após a troca, o acordo determina que no ato da venda do objeto, seja qual for sua configuração formal, o valor da venda seja igualmente dividido em três partes. Uma parte para a galeria, outra para o artista, e outra para o garoto. “Vejo o trabalho como um método involuntário de pintura que produz mínimas esculturas sociais. Há uma pregnância da economia marginal, do trabalho infantil, da pulsão de vida, da destreza individual versus a imobilidade social inserida no pós-colonial sob a forma de pós-escravismo. Essas bolas em movimentos são “sólidos piramidais”, pois são um sintoma da estrutura social rígida imóvel. A adição da palavra escrita parte do meu convívio com os garotos, insere uma camada de subjetividade, de individualidade, são códigos nativos, gíria-linguagem, que se projeta como voz diante da comum invisibilidade.”
Alexandre Mazza apresenta o trabalho “Na escuridão, a luz”, em que faz uma analogia entre o simbolismo da coruja – que para muitos povos simboliza mistério, inteligência, sabedoria, conhecimento e reflexão – e o artista, que pode cair em uma escuridão e vazio após todo o processo vivido para produção de uma exposição.
Lucas Simões exibe esculturas da série “White Lies”, em forma de coluna, feitas de concreto e pilhas de papel. As peças, organizadas em forma de grade, como se fossem pilares para um edifício imaginário em processo de construção ou demolição. O papel e o concreto parecem uma cascata em direção ao solo ou subindo para o céu num padrão regular, congelando o momento antes de cada pilar derrubar. Os elementos severos de concreto são inspirados pelo movimento pós-moderno, o Brutalismo, a arquitetura e contrastam bruscamente com o papel fino que os suporta.
A série “Space Poetry (Poesia Espacial), de Eduardo Kac, é uma edição em bordado inspirada na obra em papel “Telescópio Interior”, concebida especificamente para ser realizada no espaço, em gravidade zero. Os bordados “Space Poetry” foram emoldurados procurando transmitir a ideia de flutuação da obra original.
Já Fernando Lindote, comparece com a pintura “O Sismógrafo de Aby”, que apresenta a floresta polissêmica a partir da concepção não linear de Aby Warburg. A referência a Warburg se dá em vários níveis, desde a referência ao fígado de Piacenza quanto à efígie de Nietzsche ou a própria figura de Warburg. A escultura de Maria Martins aparece no mesmo sentido de permanência/imanência das imagens. A noção de pensador como sismógrafo aqui pode ser estendida as possibilidades do pintor e seu empenho/desejo de entender de modo mais intenso.
A obra “Máquinas mínimas”, de Gê Orthof também integram a mostra. A partir da admiração, de longa data, pelos poetas Francis Ponge e Murilo Mendes que nos apontam, em seus devaneios, para a potência imensurável das mínimas ações; máquinas mínimas criam diminutos arquipélagos de viagens que contrapõem culturas distintas geometrias improváveis e a potência de tesouros dos despossuídos. As assemblages, criadas a partir de postais descartados, nos provocam em reavaliar o sentido das viagens, seus registros e os instrumentos que parecem aferir nossas distraídas vulnerabilidades em tempos de complexas acelerações.
Fundada em 2011, o principal objetivo da Luciana Caravello Arte Contemporânea é reunir artistas com trajetórias, conceitos e poéticas variadas, refletindo assim o poder da diversidade na arte contemporânea. Evidenciando tanto artistas emergentes quanto estabelecidos desde seu período como marchand, Luciana Caravello procura agregar experimentações e técnicas em suportes diversos, sempre em busca do talento, sem discriminações de idade, nacionalidade ou gênero.
Até 26 de maio.