O Espaço Cultural Citi, Paulista, São Paulo, SP, inaugurou exposição “Yukio Suzuki – O Exato Momento da Inefável Aparência das Coisas”, mostra póstuma de pinturas e desenhos. A curadoria é do crítico Jacob Klintowitz. Trata-se de uma exposição de rara oportunidade, pois o artista sempre foi muito discreto no seu convívio público. E é uma mostra de imensa delicadeza pois este é o perfil de sua obra.
Yukio Suzuki por Jacob Klintowitz
Yukio Suzuki.
O exato momento da inefável aparência das coisas.
Um homem contempla a imagem de um homem projetada num espaço sem registro e parâmetros. Espaço no qual está ausente a gravidade. Um espaço na Terra que parece não pertencer à Terra. Nem a gravidade da atração dos corpos, nem a gravidade de comportamento do homem que sabe o que seja a realidade. Em Yukio Suzuki a verdade é um complexo sistema de aparências, reflexos da aparência e percepção de sombras.
Yukio Suzuki, 1926-2004, foi um artista único, inventor de visualidades sutis. Foi pioneiro da ideia de apropriação, que nele foi grandiosa: certo dia ele se apropriou da praia de Copacabana. Na foto lá está Yukio, sereno, e uma pedra com a sua assinatura pousada na areia mais conhecida do país. E, ao mesmo tempo, foi o mais silencioso dos artistas. Ele tinha a convicção de que a obra falava por si mesmo. Era assim que se movia.
Suzuki não sabia de realidade nenhuma que não fosse a de imagens existentes em dois planos, o físico e o pressentido. Ou, talvez, em três, o físico, o psíquico e o de uma sensação intuída, habitante em lugar desconhecido. E é esta intuição, além da categorização, distante da nomeação, o que se impõe no seu percurso. Yukio Suzuki é o artista que registra o sistema do que não está sistematizado, do existente apenas porque sentido por um ser humano.
A comprovação da existência desta intuição, o que lhe dá súbita corporeidade, é ter sido captada por este artista que se entrega à ela, que aceita o luminoso mundo, já distante das sombras, que se impõe a ele como um modelo absoluto e ao qual ele se submete e dedica a vida. Sentir é o objetivo do artista e com uma delicadeza infinita apesar de humana, ele assinala este sentimento do mistério. É uma arte do inefável e ele, de uma modéstia infinita apesar de humana, está a serviço do inefável e é o seu sacerdote.
Poucas vezes encontramos um artista tão disponível e que se deseja instrumento de seu sentimento do mistério. Talvez, em algum momento, este artista sorriu diante de seu continente descoberto, do imerso que emerge, mas este sorriso não aflorou e permaneceu, também ele, como um movimento interior, como o reconhecimento de que ele encontrara a sua verdadeira pátria, o lugar dos reflexos da aparência, o desfiladeiro das sombras, o horizonte do arco-íris, o continente do inefável, que parece o ter escolhido como porta-voz.
Até 11 de outubro.