A vida é bem mais feliz no Instagram e Facebook e todos sabem disso. Partindo dessa cultura de exposição em redes sociais, o artista Claudio Tobinaga apresenta sua primeira individual “Colapsos”, na galeria Simone Cadinelli Arte Contemporânea, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. Com curadoria de Cezar Bartholomeu, a exposição reúne cerca de 30 pinturas em pequenos e grandes formatos, inspiradas em fotografias coletadas da internet e pautadas no subúrbio carioca. Neste cenário, as fotos se transformam em uma mise-en-scène, explorando uma narrativa quase cinematográfica. A atmosfera do ordinário toma contornos de um existencialismo barato, com uma superfície que seduz e ao mesmo tempo engana. As imagens ganham um novo significado aberto a diversas interpretações, com uma roupagem bastante pop.
“Gosto de olhar a relação midiática existente nesse contexto. As pessoas passaram a produzir suas próprias fotos como uma capa de revista, como se fossem celebridades. É uma exposição ‘fake’, uma relação de construção de mito, de imagem”, analisa Tobinaga.
O artista utiliza signos que colocam o espectador nas situações retratadas nas telas, cheias de iconografias de lugar e elementos pop. A intenção é “colapsar” estes elementos presentes nas obras com a relação que o espectador tem com a imagem, eliminando estereótipos. “As imagens se deformam porque quero tangenciar esse lugar que é, ao mesmo tempo, muito próximo e muito distante. A pintura tenta olhar para a imagem que vai se desfazendo enquanto forma e cor”, explica.
Segundo o curador Cezar Bartholomeu, o título da exposição se refere a uma tentativa de desarticular o que Tobinaga entende como uma sucessão de imagens. Para o artista, as imagens digitais e analógicas configuram um espaço e uma velocidade. Assim, há um colapso no sentido estrutural e, também, temporal.
“Quando as imagens se encontram sem que possam se encontrar, até certo ponto, entram em um colapso que permite que a pintura aconteça. É o que sustenta a pintura. Na obra ‘Encruzilhada’ por exemplo, o colapso da estrutura das imagens faz parte de um sacrifício de fé para que a pintura passe a existir”, avalia Bartholomeu.
“Há uma parte da arte que acredita que o fato de tematizar mídias digitais é o suficiente para que a obra de arte seja contemporânea. O contemporâneo em arte é mais complexo que isso. Diria que é mais do que simplesmente se apropriar do contemporâneo nas mídias digitais como uma imagem. É preciso lidar, de fato, com essa imagem”, completa o curador, que conheceu o trabalho do artista na Escola de Belas Artes da UFRJ.
Sobre o artista
Formado na Escola de Música Villa Lobos (UFRJ), frequentou diversos cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e foi monitor de modelo vivo (EBA-UFRJ) e desenho de observação (Parque Lage – EAV) junto ao professor Frederico Carvalho. Desde 2012 é assistente no Ateliê da artista Lucia Laguna. Atualmente tem se dedicado a livre docência em pintura e desenho. Participou das exposições coletivas “Visão de emergência” na Luhda Gallery (Rio de janeiro, 2014) e “Territórios” no Centro de Arte Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, 2013) e do Kassel Documentary Film and Video Festival (Kassel, 2011).
Sobre o curador
Vive e trabalha no Rio de Janeiro. É artista plástico e doutor em linguagens visuais pela UFRJ (Rio de Janeiro) / EHESS (Paris) nas áreas de Teoria e História da Fotografia. Trabalha prioritariamente as relações entre fotografia e arte, em particular fotografia contemporânea e conceitualismo. É professor do Departamento de História da Arte da Escola de Belas Artes da UFRJ (Rio de Janeiro), na área de Teoria da Imagem.
Até 03 de outubro.