Rose Aguiar e Sandra Gonçalves apresentam até 04 de junho, fotografias em duas salas no Centro Cultural Correios RJ, Centro, Rio de Janeiro, RJ.
Qual a perspectiva híbrida que uma imagem pode assumir? Perpassando pelo documental e o ficcional, é essa a proposta da exposição “Transitoriedades Ocultas”, que reúne trabalhos das artistas visuais, professoras e pesquisadoras Rose Aguiar e Sandra Gonçalves. A partir do dia 05 de maio, cada uma ocupará uma sala do andar térreo, sob curadoria de Cota Azevedo, totalizando 60 fotografias. As composições apresentadas são organizadas em dois grupos visuais de cor: o azul, com imagens que tangem o abstrato com a temática “água”, de Rose Aguiar; e o vermelho, cor eleita por Sandra Gonçalves para expressar questões do feminino.
O ponto onde as narrativas apresentadas convergem é o contexto de trânsito entre algum lugar da memória iconográfica e do faz de conta. Tanto Rose quanto Sandra tratam a fotografia como um campo que instiga a visão para além do olhar, seja pelo viés da sobreposição da imagem sucessiva ou ainda pela aproximação do ponto focal retratado. A narrativa do conceito dos trabalhos se estabelece facilmente. É necessário um ato de “começar a ver”, que não reconhece um caminho exato de uma identificação com a realidade meramente mimética.
“O campo formal do documentário, do registro, torna-se contaminado pelo subjetivo e imaginário em “Transitoriedade Ocultas”. Se há um espaço de discurso da criação de uma obra que não pode ser captado pelo outro, na fotografia haveria então uma visão míope. Algo de uma certa incapacidade linguística de traduzir por completo a imagem retratada. Mesmo quando ocorre um registro verossímil da realidade, o fato, a foto, torna-se um território carregado de símbolos ocultos específicos e repletos de uma ambivalência da imagem documentada, que, por vezes, se tornam invisíveis. Quase sempre, não reveladas. Segundo Susan Sontag, pensadora e crítica de arte, “…a fotografia é o inventário da mortalidade. Sendo assim, transitórias e ocultas”, afirma a curadora, Cota Azevedo.
O real é abstrato ou não? É o que Rose Aguiar parece interrogar em suas fotos aquáticas. A temática escolhida pode colocar o espectador no contexto da cena projetada: um participante ativo, ou um voyeur a querer adentrar no cenário vislumbrado. As distâncias focais curtas podem articular uma história ambígua. A escolha de composição em suas fotografias mostra ainda a natureza das coisas cambiantes de uma imagem. A vitalidade também encontra a sua ponte em Sandra Gonçalves. A escolha pela paleta de cor forte (vermelha, carnal e carnívora) das suas fotos infringe o cenário costumeiro, como se a proposição da imagem testemunhasse seu tempo e seus atravessamentos. A artista opta por levantar questões do feminino através de uma sucessão de camadas fotográficas, em uma infinitude de leituras estruturais e historiográficas onde os temas não são banais.
Sobre as artistas
Rose Aguiar nasceu no Ceará, foi criada no Rio de Janeiro e mora em Nova Friburgo desde 1979. Graduada em Artes (Educação Artística) no Bennett, possui três pós – graduações (Universo, UNIRIO e UNB) na mesma área. Trabalha com desenho, xilogravura, aquarela e fotografia há mais de 40 anos e atualmente sua pesquisa se volta para a fotografia, com o tema “Água”, com imagens que instiguem e causem estranhamento no espectador. Realizou exposições individuais e coletivas no Brasil (Fortaleza, Goiás, São Paulo, Porto de Galinhas, Rio de Janeiro e Nova Friburgo) e no exterior (Nova York, Portugal, Osaka, Paris, Palermo, Milão). Participou de Exposições pelo MUSA Contemporary Art durante quatro anos em diversas cidades europeias e com a Galeria Heclectik Art. Trabalhou durante 30 anos como professora de artes na Rede estadual de Ensino em Nova Friburgo (IENF). Teve como mestres Ivan Serpa, Lydio Bandeira de Melo, Eduardo Sued, Antônio Grosso e Chalib Jabour, orientação de Lia do Rio, Marcia Zoé Ramos, Sara Figueiredo.
Sandra Gonçalves nasceu na cidade do Rio de Janeiro e atualmente mora e trabalha em Porto Alegre. É artista visual, fotógrafa, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desde 2000, a artista se dedica à linguagem da fotografia, atua tanto com a técnica da fotografia analógica como a digital produzindo uma imagem híbrida. Ambos os processos estão vinculados as reflexões sobre o ser-no-mundo contemporâneo. Seu currículo contabiliza mais de 40 exposições coletivas, além de sete individuais, no âmbito internacional e nacional. Ainda este ano lançou pela editora Origem o livro fotográfico “Cápsula”, sobre os trabalhadores de atividades insalubres, no caso específico das carvoarias existentes no centro urbano da cidade do Rio de Janeiro. Sandra foi selecionada no Edital Público de Ocupação Centro Histórico Cultura da Santa Casa de Porto Alegre. 2022. A mostra está marcada para setembro deste ano em Porto Alegre, RS.