A Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS, abriga, no quarto andar de sua sede, a exposição “Xico, Vasco e Iberê – O ponto de convergência“, que propõe conexões entre as obras desses três artistas ligados por dimensões temporais e espaciais. Trabalhando simultaneamente na Porto Alegre dos anos 80, os três pensaram os mesmos temas e estabeleceram uma relação de coleguismo e amizade. A fim de ilustrar essa ligação, a mostra traz retratos feitos por Iberê Camargo de Vasco Prado e de Xico Stockinger, as cabeças de Iberê e de Xico esculpidas por Vasco e outras duas feitas por Xico retratando Vasco e Iberê. Esse triângulo formado pelos artistas tem curadoria do crítico de arte e professor da USP, Agnaldo Farias. Partindo da volta de Iberê a Porto Alegre em 1982, após 30 anos no Rio de Janeiro, ela apresenta uma seleção de obras que versam sobre a condição humana, a qual – seguida pelo desenho – é ponto de convergência entre as ideologias e poéticas próprias de cada um dos artistas.
Entre as principais obras de Xico Stockinger expostas, destacam-se os “Gabirus”, série de esculturas que ressalta as condições de vida do homem nordestino. Os corpos deformados e nus, com características animalescas que enfatizam o horror social, são uma espécie de denúncia à inércia e ao pouco caso nacional. Em oposição a eles e no mesmo espaço de tempo, encontram-se as “Magrinhas”, série de figuras femininas longilíneas de forte aspecto sensual.
Vasco Prado é representado por “Acrólito”, escultura em madeira e bronze na qual trabalhou durante quase trinta anos. Nela, o tempo se sobrepõe em camadas marcadas pelo buril do artista, evidenciando seu processo de trabalho com a madeira a cada pequena decisão tomada. Segundo Agnaldo Farias, a obra, carregada de certo aspecto mágico ou religioso, evoca não apenas esculturas tradicionais de tribos africanas, mas ainda máscaras mortuárias (representadas pela cabeça e pelos pés em bronze) que carregam as feições do morto através do tempo – promovendo um encontro entre presente, passado e futuro.
“Tudo te é falso e inútil V” e “No vento e na terra”, de Iberê Camargo, ressaltam a mudança ocorrida nessa época em seu trabalho – que passa de telas carregadas, com uma espessa camada de tinta, grande força gestual e um gradual afastamento da representação a figuras humanas e uma camada mais fina de tinta sobre a tela. Aqui, o homem é representado em toda sua desgraça e solidão, em telas amplas e cheias de espaço vazio; são postos em evidência os abismos humanos, que também são os abismos do artista.
Nesse sentido, a condição humana como ponto de convergência leva o espectador ao longo da exposição, evidenciando tanto as peculiaridades, semelhanças e relações entre os trabalhos dos três artistas gaúchos quanto ao coleguismo estabelecido por eles no ofício artístico. Dois escultores e um pintor ligados não apenas pelo contexto histórico e social, mas também por suas próprias inquietações e angústias.
De 05 de setembro a 17 de novembro.