Um inédito cartaz triplo é o que oferece a galeria Vermelho, Pacaembu, São Paulo, SP, através das exposições individuais “Neste Lugar” de Daniel Senise (salas 1 e 2), “Repetição da ordem” de Nicolás Robbio (sala 3) e a instalação “Escalpo Islâmico” de Dora Longo Bahia (Terraço). Na abertura aconteceu o lançamento – pelas Edições Tijuana- do livro de artista “La Pintura Española” de Daniel Senise.
A arquitetura dos espaços do cotidiano alimenta a concepção e a produção das obras de Daniel Senise, constituindo a poética que permeia sua obra como um todo. O conjunto das obras que integram a individual “Neste Lugar” mantém em sua gênese essa característica e retoma um elemento conceitual importante já utilizado por Senise no início dos anos 2000. Nelas, o artista volta a revelar o interior de grandes espaços expositivos, como nas colagens National Gallery, Gemäldegalerie e Musée D’Orsay. O resultado do interesse de Senise pela arquitetura, história e dinâmicas empregadas nestes grandes acervos públicos está presente na instalação “Eva”, mostrada no Centro Cultural São Paulo, em 2009. Na obra, composta por blocos similares a tijolos feitos em papier maché, a partir da reciclagem de catálogos, livros de arte e convites de exposições, Senise aponta para o apagamento pelo qual passam vários dos acervos públicos. Em 2009, Senise literalmente escondeu a escultura “Eva”, de Brecheret, atrás de quatro paredes feitas com os restos de papel destas instituições.
O mesmo suporte foi utilizado por Senise na instalação apresentada na 29ª Bienal de São Paulo, em 2010. Nesse caso, os blocos de papel reciclado contendo milhares de informações acerca de pintura foram usados não apenas na construção do espaço expositivo mas se transformaram na obra em si, conduzindo o observador, como menciona Marco Silveira Mello, “para atentar às superfícies e ver, nos pequenos vestígios das placas,… acontecimentos pictóricos ou evocativos à compleição da pintura”. Na instalação “Parede com 5 buracos”, criada por Daniel Senise para o projeto “Travessias 2 – Arte Contemporânea na Maré”, na favela da Maré, RJ, em 2013, a referência a essas grandes instituições é literal. A obra foi apresentada sobre uma parede localizada na entrada do espaço expositivo, com cinco buracos por onde podia-se ver as maquetes idênticas às salas de museus, como o Musée D’Orsay (Paris), o MoMA (Nova York), o National Gallery (Londres), e o MAM RJ (Rio de Janeiro). No ultimo buraco, o observador podia visualizar o espaço onde ele se encontrava. Segundo o artista, a obra revela algo comum nos dias de hoje que é a substituição da presença real decorrente da democratização da informação. “Neste Lugar” contará com duas maquetes. Uma delas será montada na fachada da Vermelho, e reproduzirá o hall de entrada da galeria, sugerindo um jogo metalinguístico entre experiência física e representação pictórica.
Já nas obras “Musée du Louvre”, “Museo del Prado”, “Galleria degli Uffizi” e “National Gallery” da série “Museu”, todas de 2013, Senise fragmenta as reproduções publicadas por esses museus sobre suas coleções e acondiciona todo esse conteúdo em caixas de acrílico transparente, criando uma ideia análoga a de coleção, gênese de todo museu. Comentar a história da arte e, mais especificamente, a história da pintura integra o léxico de Senise. Na exposição “Neste Lugar”, entretanto, essa estratégia aparece ampliada, evidenciando o caráter impalpável e imprevisível que intermedia a relação entre observador e obra de arte. “La Pintura Española”, livro de artista que Senise lançou na data de abertura da individual, materializa por meio de um jogo de luzes e espelhos, esse procedimento.
“Repetição da ordem”
Nicolás Robbio
A individual “Repetição da ordem” de Nicolás Robbio foi construída a partir de três símbolos que representam o Poder: a bandeira, a grade e a moeda. Símbolo de estados soberanos, clãs ou de sociedades de pessoas regidas por lei ou pela tradição, a bandeira aparece na vídeo instalação “Sem Título” (2014), representada apenas pela sombra que reproduz. Sua matriz, nesse caso ausente, nos daria pistas de sua procedência. Porém, o interesse de Nicolás Robbio está na simbologia da “Bandeira”. “Los de arriba, los de abajo. Los buenos, los malos”, vídeo criado por Robbio em 2011, emprega imagens de grades de ferro utilizadas em casas e edifícios, para tecer um comentário sobre a impossibilidade de permanência e de conciliação entre opostos. O acúmulo de poder aquisitivo acontece por meio da moeda. No “Todos os caminhos levam a Roma” [2014], duas moedas de países diferentes, como Inglaterra e Colômbia, se relacionam de forma equilibrada num sistema de engrenagem, como se o valor que representam pudesse ser equivalente. Em “Repetição da ordem” Robbio cria uma representação acerca da sociedade atual, por meio dos símbolos do poder que a fazem funcionar.
Escalpo Islâmico
Dora Longo Bahia
Obra criada e apresentada originariamente no 2º andar do Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera, durante a 28ª Bienal de São Paulo, em 2008, “Escalpo Islâmico”, de Dora Longo Bahia, emprega motivos islâmicos sobre um fundo de tinta acrílica vermelha, para tecer um comentário acerca da violência.
Sobre os artistas
Daniel Senise. Naceu no Rio de Janeiro, Brasil, 1955. Exposições Individuais (seleção): Daniel Senise 2892 – Casa França Brasil – Rio de Janeiro – Brasil (2011); Daniel Senise – Estação Pinacoteca – São Paulo – Brasil (2009); Daniel Senise – Trabalhos Recentes – Museu Victor Meirelles – Florianópolis – Brasil (2008); Daniel Senise – Galeria Vermelho – São Paulo – Brasil (2007); Paintings from the North Ramis Barquet Gallery – Nova York – EUA (2001). Exposições Coletivas (seleção): O Gesto e o Signo – White Cube – São Paulo – Brasil, 2013; Gravura em campo expandido – Pinacoteca do Estado – São Paulo- Brasil, 2012; Jogos de Guerra – Caixa Cultural Rio de Janeiro- Rio de Janeiro – Brasil, 2011; 29ª Bienal de São Paulo: Há sempre um copo de mar para um homem navegar – Fundação Bienal de São Paulo – São Paulo—Brasil, 2010; After Utopia – Museo Centro Pecci – Prato – Itália, 2009.
Nicolás Robbio. Nasceu em Mar del Prata, Argentina, 1975. Exposições Individuais (seleção): Bandeira em branco não é bandeira branca – Galeria Vermelho – São Paulo – Brasil (2011); O Amanhã de Ontem não é Hoje – Programa Emissores Runidos – Episódio 1 – Fundação Serralves – Porto – Portugal (2009); Indirections – Pharos Centre for Contemporary Art – Nicosia – Chipre (2008). Exposições Coletivas (seleção): Sextanisqatsi: desordem habitável – Museo de Arte Contemporáneo de Monterrey (MARCO) – México (2012); 32º Panorama da arte Brasileira – Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) – São Paulo – Brasil (2011); Para ser Construidos – MUSAC – Léon – Espanha (2010); 2° Trienal Poli/Gráfica De San Juan – Porto Rico (2009); 28ª Bienal de São Paulo – Fundação Bienal de São Paulo – Pavilhão Ciccillo Matarazzo – São Paulo – Brasil (2008).
Dora Longo Bahia. Nasceu em São Paulo, Brasil, 1961. Exposições Individuais (seleção) Desastres da Guerra, Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil [2013]; Trash Metal, Galeria Vermelho, São Paulo, Brasil (2010); Escalpo carioca e outras canções, Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (MAMAM), Recife e Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), Rio de Janeiro, Brasil (2006]; Marcelo do Campo 1969 –1975, Centro Mariantônia, São Paulo, Brasil (2003). Exposições Coletivas (seleção): Imaginarios Contemporâneos, Museo Tecnológico de Monterrey, Monterrey, México (2013]; The Spiral and the Square, SKMU Sorlandets Kunstmuseum, Kristiansand, e Trondheim Art Museum, Trondheim, Noruega (2012); Destricted.br, Galpão Fortes Vilaça, São Paulo, Brasil (2011); IX Bienal Monterrey FEMSA, Centro de las Artes, Monterrey, México (2009); 28ª Bienal Internacional de São Paulo, Fundação Bienal, São Paulo, Brasil (2008); Farsites: urban crises and domestic symptoms in recent contemporary art, Centro Cultural Tijuana e San Diego Museum of Art, Tijuana – Mexico/San Diego, EUA (2005); Imagem Experimental, Museu De Arte Moderna (MAM SP), São Paulo, Brasil (2000).
Até 05 de abril.