A Galeria Marcelo Guarnieri, Jardins, São Paulo, SP, tem o prazer de apresentar, entre os dias 23 de outubro e 22 de novembro, “ponto-zero/ponto-nulo”, primeira exposição individual de Victor Mattina em São Paulo, que conta com a curadoria de Luisa Duarte.
“ponto-zero/ponto-nulo” reúne dezessete pinturas desenvolvidas pelo artista entre os anos de 2020 e 2021 a partir de sua pesquisa sobre a condição da imagem digital, que na contemporaneidade, perde sua função de mediadora para assumir a função de produtora da realidade. Por meio da linguagem pictórica, Mattina resgata o poder da representação visual e a utiliza como uma ferramenta capaz de perturbar o sistema sensorial do sujeito contemporâneo, cada vez mais anestesiado pela saturação e hiperestimulação imagética. O artista propõe a retomada da experiência estética a partir do que ele chama de “contemplação do obstáculo”, produzindo intervalos entre as imagens e seus referentes. Suas composições se mostram à primeira e rápida vista como enigmas, cenas que, para serem decifradas, resistem, exigindo maior atenção daquele que vê. O uso de tons rebaixados, não correspondentes à saturação de cores que o olho humano está condicionado a associar aos objetos ao seu redor, provoca um primeiro estranhamento, amplificado pelos títulos dos trabalhos que são formados por palavras provenientes do vocabulário técnico e científico. Fragmentos de corpos animais e vegetais são retratados em enquadramentos inusuais, compondo situações por vezes absurdas, possíveis apenas na realidade da pintura.
Para dar forma e nome às suas composições, Mattina recorre ao campo da medicina e da biologia, atravessa corredores de hospitais e salas de diagnóstico por imagem e se apropria da linguagem compartilhada nesses ambientes. O artista explora o caráter insuspeito da linguagem científica para criar imagens incompletas, ou mesmo opacas, desmontando a ideia de que a obra de arte é a perfeição da ilusão de uma realidade sui generis e afirmando que “na pintura, o esforço deve ser pelo efeito contrário – a imagem deve conter o mundo e procurar escapar dele simultaneamente”. Sua pesquisa sobre o poder da representação visual percorre não somente o pensamento de autores como Susan Buck-Morss, Vilém Flusser e Édouard Glissant, mas também a metodologia de trabalho de ilustradores científicos que se utilizam de softwares de computação g ráfica para criar identidades visuais de microorganismos, como os vírus. Interessado pela semiótica das imagens computadorizadas, elabora suas pinturas como se estivesse em um laboratório, compondo suas cenas minuciosamente, considerando os significados simbólicos, filosóficos e conceituais de suas escolhas através do entrecruzamento de questões relacionadas à síntese em imagens e em organismos vivos. “Todos estes trabalhos desencorajam os que os fitam a identificá-los como fantasmagorias subjetivas. Em vez disso, desejam estar mais conceitualmente próximos de ‘vedações’ capazes de nos devolver o sistema sinestésico ou, pelo menos, espelhar nossa consciência durante seu processo de reaterramento”, defende o artista.
Sobre o artista
Victor Mattina nasceu em 1985, Rio de Janeiro. Vive e trabalha no Rio de Janeiro, Brasil. Bacharel em Design pela ESPM-RJ. Em 2020 foi um dos vencedores da Bolsa de Residência Artist Opportunity do Vermont Studio Center em Vermont, EUA; em 2019 participou da 2ª Residência Artística Soy Loco Por Ti Juquery no Complexo Hospitalar do Juquery em São Paulo, Brasil e em 2016 participou da 6ª Edição da Bolsa Pampulha no Museu de Arte da Pampulha em Belo Horizonte, Brasil. Desde 2012 participa de exposições em instituições públicas e privadas. Em 2017 apresentou a individual “Antes do Fórum”, com curadoria de Evangelina Seiler, no Paço Imperial, Rio de Janeiro; no mesmo ano integrou a exposição coletiva “A Luz que Vela o Corpo é a mesma que Revela a Tela” com curadoria de Bruno Miguel na Caixa Cultural, Rio de Janeiro; em 2016 participou de “x4” com curadoria de Marcelo Campos e Efrain Almeida no Solar Grandjean de Montigny, PUC-Rio, Rio de Janeiro.